Marcio Trannin, Vice-Presidente da ABSOLAR, abriu o evento destacando os desafios enfrentados pelas fontes renováveis — que sofrem prejuízos bilionários devido a cortes de geração (curtailment) — e ressaltou a importância do hidrogênio verde (H₂V) para ampliar a demanda por energia, bem como do armazenamento em baterias para conferir estabilidade ao sistema; anunciou ainda que o Global Solar Council passou a incorporar formalmente o setor de armazenamento, aproximando as duas frentes tecnológicas.
Rodrigo Sauaia, Presidente Executivo da ABSOLAR, reforçou a urgência do avanço simultâneo de H2V e do armazenamento no Brasil, observando que o mercado já começou a se consolidar apesar da falta de regulamentação e da elevada carga tributária, sugeriu a substituição da palavra “intermitência” por “variabilidade”, que é tecnicamente mais precisa para descrever a mudança na geração ao longo do dia.
José Renato Nalini, Secretário Executivo de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo, apontou os três principais problemas urbanos da cidade – trânsito, energia estacionária e resíduos – e defendeu o conceito de “desfossilização” em lugar de descarbonização. Ressaltou que a mudança depende da iniciativa privada com propostas concretas, e que o município está aberto a adotar energia limpa em escolas e prédios públicos, incluindo o hidrogênio verde.
José Dickson Araújo de Oliveira, Secretario de Infraestrutura do Estado do Ceará, apresentou o estado como protagonista da transição energética, lembrando seu histórico pioneiro e conquistas em educação e energia. O estado produziu a primeira molécula de H2V no Brasil, acumula dezenas de acordos e projeta 10 GW de demanda de eletricidade para a produção de H2V até 2032. Defendeu a expansão da rede elétrica para reduzir o curtailment, citou avanços nos próximos leilões de transmissão e destacou projetos de armazenamento, como baterias e usinas reversíveis.
Eduardo Farias Topázio, Diretor-Geral do INEMA (Bahia), explicou como o estado tenta conciliar competitividade, redução de emissões e proteção ambiental, apontando a questão fundiária como o principal obstáculo para regularização de áreas e implantação de projetos; informou que a Bahia já criou normas para H2V e busca parcerias internacionais para viabilizar investimentos.
André Ribeiro, Renewables & Operations Manager da PowerSafe, trouxe a perspectiva da indústria de baterias, enfatizando que a expansão do setor elétrico depende do armazenamento e apresentando dados sobre os prejuízos da instabilidade em São Paulo, com 900 mil imóveis afetados, cerca de 300 mil eletrodependentes impactados e um custo econômico estimado em R$ 246 milhões por dia sem energia, além de apresentar soluções como estações portáteis de energia para aplicações críticas.

Vinícius Suppion, Especialista Técnico-Regulatório da ABSOLAR, abriu o painel enfatizando que o armazenamento já é uma realidade no Brasil, apesar de o marco legal ainda estar em construção; citou o primeiro sistema em larga escala (30 MW / 60 MWh, em Registro-SP), destacou os benefícios na redução do curtailment, estabilização de preços e otimização operacional, e mencionou avanços regulatórios recentes que reconhecem serviços ancilares e permitem testes em ambiente sandbox.
André Ribeiro, Renewables & Operations Manager da PowerSafe, enfatizou o papel das soluções residenciais e críticas para eletrodependentes, projetou o mercado global de armazenamento em 863 GW até 2030 e observou que o Brasil já instalou 269 MWh em 2024 (crescimento próximo a 90%), comentou a queda no custo do lítio e demonstrou a aplicabilidade prática de estações portáteis de energia.
Ruan Reis, Gerente Comercial da Goetze Lobato Engenharia, trouxe a visão de quem atua em EPC de grandes projetos renováveis, ressaltando que o mercado de BESS em escala centralizada ainda não está consolidado, mas já desperta forte interesse de investidores apontando barreiras técnicas e logísticas, na prevenção de incêndio, geotecnia, prazos, logística, drenagem e proteção de cabos, e defendendo a padronização normativa e metodologias ágeis para viabilizar BESS em escala centralizada.
Ricardo Stefano, Gerente Global de Vendas BESS da WEG, ressaltou que o Brasil pode produzir até 75% da cadeia de valor para sistemas de armazenamento de energia, detalhou capacidades industriais nacionais em inversores, controles e refrigeração, e enfatizou o papel do financiamento (BNDES) e de estratégias de economia circular, incluindo usos de baterias em segunda vida.
Sergio Jacobsen, CEO da Micropower Energy, apresentou o modelo “BESS as a Service”, que reduz a barreira do investimento inicial, descreveu aplicações em microrredes, leilões e indústrias e expôs o caso prático da Vale em Mangaratiba (RJ), no qual baterias de 10 MWh foram utilizadas para reduzir a demanda em horário de ponta, corrigir fator de potência e fornecer backup, demonstrando viabilidade econômica e múltiplas fontes de receita.

Camila Ramos, Vice-presidente de Investimentos de Hidrogênio Verde da CELA, abriu destacando a necessidade de incentivos para fomentar o mercado e as oportunidades de descarbonização de setores de difícil mitigação. Atualmente o Brasil tem sido identificado como um mercado promissor para produção de H2V por eletrolise, com uma demanda acumulada projetada, até 2038, de 35,9GW. Camila informou que o Hidrogênio Verde é um setor que atrai muito a atenção das pessoas e traz a possibilidade de descarbonizar setores extremamente difíceis de descarbonização. Ainda assim, o H2V é uma nova tecnologia que tem todos os desafios que uma nova tecnologia apresenta.
Vanessa Grunwald, Especialista em novos negócios da CCEE, explicou os mecanismos de certificação disponíveis (padrão europeu e padrão nacional., e abordou sobre o mercado doméstico Brasileiro, com o marco legal do hidrogênio – Leis 14.948 e 14.990 – com as definições de baixa emissão de carbono, hidrogênio renovável e hidrogênio verde.
Rodrigo Santana, Diretor de Estratégia & Desenvolvimento da Atlas Agro, tratou da importância do hidrogênio para a cadeia de fertilizantes nitrogenados, lembrando que sem fertilizantes modernos haveria alimento para apenas metade da população atual. Rodrigo destacou a importância do hidrogênio na produção de fertilizantes, e que a indústria de fertilizantes emite cerca de 1 bilhão de toneladas de CO2 anualmente. O hidrogênio é essencial para a obtenção da molécula da amônia e obter o hidrogênio verde é essencial para a descarbonização dessa indústria.
Guilherme Arantes, Gerente de Inteligência Setorial na Área de Transição Energética e Clima do BNDES, apresentou o panorama de projetos e financiamento, informando que mais de US$ 30 bilhões em projetos de hidrogênio renovável foram anunciados no Brasil — muitos ainda com decisão de investimento pendente. Foi apresentada a atuação do BNDES no apoio ao financiamento da produção de hidrogênio renovável, destacando a BIP, plataforma responsável por conectar financiadores e projetos de hidrogênio renovável. Atualmente, em relação à projetos de hidrogênio, temos cadastrados na BIP dois grandes projetos focados na exportação e outros três para abastecimento da indústria nacional.
Rodrigo Sauaia, Presidente Executivo da ABSOLAR, contextualizou a evolução regulatória do armazenamento no Brasil entre 2020 a 2023, comentou sobre a Consulta Pública nº 39/2023 e reforçou a expectativa por uma resolução normativa que aumente a segurança jurídica e a atratividade do setor; destacou o potencial do armazenamento em leilões de reserva de capacidade (aplicações 4–8 horas e sistemas isolados) e mencionou instrumentos de incentivo (REIDI, debêntures incentivadas) e a mobilização por avanços via MP 1304.
Daniel Danna, Secretário-Geral da ANEEL, explicou o papel da agência na regulação e fiscalização do setor elétrico, apresentou panorama do setor, com 212 GW de capacidade instalada, 85% de fontes renováveis e atendimento a 99,8% da população. Daniel detalhou inovações regulatórias, com a criação das figuras do SAE autônomo e colocalizado com outorga de 35 anos, além de benefícios tarifários e expectativas regulatórias até 2028.
Henrique Reis, sócio da Demarest, destacou a importância do armazenamento de energia para o futuro do setor elétrico no Brasil e defendeu sua inclusão explícita na legislação. Apontou que, apesar da ausência de previsão legal, o debate avança desde 2016, com marcos como a autorização de baterias em 2022. Indicou que a conceituação, outorga, encargos, tarifas e licenciamento simplificado são pontos-chave para alavancar o marco legal. Ressaltou desafios como encargos setoriais, aspectos tributários e a busca por equilíbrio entre flexibilidade regulatória e segurança jurídica. Comentou o andamento do PL 1224/2022, das MPs 1300 e 1304/2025, e da minuta da REN relacionada à CP 39/2023. Por fim, defendeu a inserção legal do armazenamento e alertou que o Brasil está atrasado em relação a países como EUA e União Europeia.
Rubens Brandt, CEO do Grupo Energia, apresentou um caso prático de uma usina eólica com mais de 50% de curtailment, destacando a busca por soluções que envolvem a integração de baterias ou a associação com uma usina solar mais baterias. Apontou as vantagens dessa configuração híbrida, como a economia no uso do solo, otimização da rede e a complementaridade entre as fontes — com a eólica gerando mais no fim da tarde e a solar durante o dia. Com base em um estudo de caso, comparou dois cenários: um com usina eólica de 80 MW + BESS e outro com eólica (80 MW) + solar (94,5 MW) + BESS, mostrando que, em ambos, a inclusão do armazenamento traz ganhos significativos, reduzindo o curtailment e aumentando a viabilidade econômica do projeto
Matheus Dias, líder de Produto Brasil na Aurora, enfatizou que, no contexto brasileiro, as baterias ainda não se sustentam apenas pela arbitragem de preços e dependem do empilhamento de receitas (serviços ancilares, mercado de capacidade) para viabilização financeira; destacou riscos para plantas solares (modulação, curtailment elevado, acima de 37% em agosto, e exposição a submercados) e projetou necessidade de mais de 40 GW de capacidade até 2045 para atender demanda de pico.
Donato Filho, CEO da Volt Robotics, evidenciou a crescente intensidade do curtailment, com picos superiores a 8.400 MW aos domingos e aumento de ~250% entre 2024 e 2025 em cortes por falta de consumo, e defendeu o uso de baterias para reduzir cortes, substituir parcialmente despacho térmico em rampas matinais e prover múltiplas aplicações (arbitragem, redução de custos, serviços sistêmicos).
Talita Porto, Diretora Técnico-Regulatória da ABSOLAR, abriu o painel propondo quatro frentes para mitigar cortes de geração: aceleração de linhas de transmissão licitadas, sinalização adequada de preços ao consumidor, inserção de novas cargas, como data centers e incentivos a tecnologias que fortaleçam a robustez do sistema elétrico.
Sumara Ticom, Assessora Executiva de Planejamento do ONS, apresentou a visão operacional sobre a “curva do pato”, apontando desafios simultâneos (controle de frequência/tensão, desligamentos de linhas e complexidade de rampas) e ressaltando que a substituição de máquinas síncronas por inversores altera a dinâmica do SIN (redução da contribuição de curto-circuito), tornando o armazenamento uma solução versátil para suavizar rampas, atender picos e contribuir para estabilidade.
Mariana Goudel, gerente de vendas da Trina Solar, trouxe experiências internacionais (Argentina e Chile), sublinhando que ambos os países implementaram instrumentos como leilões de reserva de capacidade e isenções fiscais antes ou concomitantemente à regulação, obtendo resultados positivos e demonstrando que políticas públicas e incentivos podem acelerar a adoção de BESS.
Ricardo Seixas, Diretor Comercial LATAM da Pylontech, argumentou que a aparente “lentidão” do Brasil pode ser convertida em vantagem ao construir uma base regulatória e de segurança jurídica sólida; defendeu o armazenamento como elemento central para garantir flexibilidade, confiabilidade e economia operacional da matriz, citando a presença global da Pylontech como referência.
Carlos Freitas (Chint Power) detalhou soluções e números da empresa para o mercado C&I, destacando benefícios do BESS com gestão de demanda contratada, load shifting, backup, substituição de geradores a diesel, viabilização de projetos grid-zero e suporte à expansão de cargas, e reforçou ganhos sistêmicos como regulação de tensão/frequência, integração de renováveis e mitigação de curtailment.
Rafael Moura, Gerente Sênior de Negócios da e-STORAGE Canadian, apresentou a e-Storage, subsidiária focada em armazenamento com 17 GWh contratados globalmente. Destacou exemplos regulatórios dos EUA, Chile e Reino Unido, onde o BESS é tratado como ativo de geração, com estruturas que permitem múltiplas receitas e incentivam o investimento. Ressaltou que, no Brasil, ainda há desafios como a aplicação inadequada de tarifas, ausência de empilhamento de receitas e altas taxas, fatores que dificultam a viabilidade do armazenamento e que, se ajustados, poderiam impulsionar o setor elétrico.
Camila Ramos avaliou 2025 como um ano emblemático para o H2V no Brasil, citando avanços regulatórios (marco legal de hidrogênio de baixo carbono) e um aumento relevante no número de projetos anunciados (35% do total recente), observando que, apesar de desafios de financiamento e aprovação, o balanço setorial é positivo diante dos novos incentivos.
Vinícius Suppion ressaltou os progressos regulatórios, em especial relacionados à Consulta Pública nº 39, e reconheceu o desafio da bitarifação no uso da rede, manifestando confiança na superação desse ponto; concluiu destacando que o volume de projetos de armazenamento e H2V em 2025 já supera o acumulado dos anos anteriores, apontando perspectivas otimistas para a evolução do setor no Brasil.