O evento teve início com a fala do Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, Ronaldo Koloszuk, que comentou sobre o potencial do hidrogênio verde e do armazenamento de energia elétrica no Brasil, destacando que o módulo solar foi um dos equipamentos cujo preço mais caiu nos últimos 10 anos, seguido, em segundo lugar, pelas baterias. Nos últimos meses as tecnologias de armazenamento e H2V têm tido um aceleramento muito forte.
Em seguida, foi a vez da fala de um dos principais representantes das energias renováveis dentro do Congresso Nacional, o Deputado Federal Arnaldo Jardim, que comentou sobre o Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável, formado pela união entre ABSOLAR, ABEEólica, Abiogás e AHK, com apoio institucional do Governo do Estado do Ceará; destacou a aprovação do Projeto de Lei 5751/2023 que visa instituir o marco legal para o hidrogênio de baixa emissão de carbono; apresentou a governança desenhada para o setor, colocando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) como provável responsável por todo o acompanhamento da produção de hidrogênio; estabeleceu todo o conceito de certificação do hidrogênio e por fim avançou em instrumentos econômicos previstos para o desenvolvimento do setor.
O próximo a discursar foi o CEO da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, que trouxe a importância da energia solar no Brasil como segunda maior fonte em nossa matriz elétrica, e de como o Brasil está atrasado com a tecnologia de armazenamento de energia elétrica. Destacou a importância da Consulta Pública ANEEL nº 39/2023, que trata da construção do arcabouço regulatório, necessário para que a fonte deslanche no país, trazendo muitas oportunidades. Já sobre o Hidrogênio Verde, comentou que além do legislativo é importante trabalhar o assunto também com o executivo, para que haja mais incentivos para o Hidrogênio Verde poder se desenvolver, cada vez mais buscando a competitividade frente a outros mercados que não tem o mesmo poder de produção que o Brasil.
O Coordenador do Grupo de Trabalho de Armazenamento da ABSOLAR e Head de BESS da WEG, Ricardo Estefano, explicou como as tecnologias de hidrogênio verde e armazenamento são essenciais para a transição energética, a mobilidade elétrica, a descarbonização dos sistemas isolados e a reserva de capacidade, como um vetor para a modernização do setor elétrico, trazendo a flexibilidade e resiliência que o sistema elétrico precisa.
A Vice-Presidente da ABSOLAR e CEO da Cela, Camila Ramos, mostrou um panorama do hidrogênio verde no Brasil, comentando que além de um arcabouço legal, são necessários incentivos para que o Hidrogênio se desenvolva de forma competitiva. Destacou o potencial do Brasil como produtor e consumidor de H2V, citando como exemplo o setor de fertilizantes (a partir do Hidrogênio) como um dos principais vetores na viabilização e disponibilidade de projetos. Além disso, destacou outros setores importantes como siderurgia, aviação e mineração. Sinalizou também alguns pontos de atenção para o desenvolvimento do Hidrogênio, como os gargalos logísticos, tecnológicos e contratuais.
Ricardo Barros, Vice-Presidente da ABSOLAR e Head of Country – Brazil da Lightsource bp, apresentou o panorama da energia solar e do armazenamento no Brasil, destacando as posições alcançadas como quarto país que mais instalou energia solar no ano de 2023, cerca de 10GW, e décima posição no ranking mundial em potência acumulada. Comentou sobre a altíssima carga tributária para os sistemas de armazenamento, atualmente acima de 70%, destacando também a importância da inclusão das baterias no próximo leilão de reserva de capacidade a ser realizado em agosto próximo.
O Diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ricardo Tili, comentou que não concorda com o fato de o armazenamento participar do leilão, de forma isolada, junto às demais fontes, devido as suas especificidades, especialmente de que não é um gerador, sempre precisará de uma fonte para alimentá-lo. Porém destacou sua alta flexibilidade como um ponto positivo. Também fez uma breve fala sobre regulação do armazenamento, e explicou que o regulador tratará com urgência a questão de outorga e do acesso à rede.
O Diretor de TI, Relacionamento com Agentes e Assuntos Regulatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Marcelo Prais, comentou sobre a versatilidade da tecnologia de armazenamento e como essa pode prestar diversos serviços ao sistema; destacou também a parceria do ONS com a Aneel e a contribuição da Consulta Pública Aneel nº 39/2023.
Para fechar a sessão de abertura, a Vice-coordenadora do Grupo de Trabalho de Armazenamento da ABSOLAR e Partner Sr da G2A Consultores, Mariana Galhardo, comentou que o armazenamento pode trazer várias possibilidades uso, e enfatizou que, devido às especificidades desta tecnologia, a regulação para os sistemas de armazenamento tem que ser diferente dos serviços de distribuição, por exemplo. Destacou também um estudo que foi realizado em 2021, onde foi identificado quais eram as grandes possibilidades de armazenamento no Brasil, em primeiro lugar da lista ficaram os sistemas de armazenamento e em segundo o hidrogênio verde.
O primeiro painel teve como tema “Ambiente regulatório para uso dos sistemas de armazenamento no Brasil – o que falta para a tecnologia deslanchar?”, e foi aberto por Mariana Galhardo, que abriu a sessão apresentando as ações realizadas pela ABSOLAR a fim de construir a inserção do armazenamento no Brasil, incluindo a contratação de duas consultorias, a REGE e a MCE, para projetos que buscavam tanto a questão regulatória quanto a questão de planejamento.
Mariana explicou que, a fim de entender como o sistema de armazenamento poderia ser utilizado, foi construído um roadmap e houve muitos progressos. Enfatizou que, em 2023, foi contratado um escritório de advocacia especializado em tributação para fazer a análise de como os benefícios mais factíveis para o sistema poderiam ser atingidos e que, em março de 2024, a ABSOLAR contribuiu também com a Consulta Pública MME nº 160/2024, na qual foi aberta a discussão sobre as diretrizes para o leilão de reserva de capacidade. Ela apontou que o sistema de armazenamento não foi contemplado inicialmente, mas ao que tudo indica, esta possibilidade é factível. Finalizando a sua fala, mencionou a redução de gastos e o consequente aumento do PIB como alguns dos benefícios gerados pelo sistema de armazenamento.
Marcio Takata, Diretor da Greener, iniciou sua fala reforçando a importância do armazenamento para o Brasil e trazendo dados sobre o mercado fotovoltaico. Comentou que países que possuem mercados menores do que o Brasil, possuem uma participação significativa de armazenamento na matriz e que 60% das novas instalações de usinas solares vêm acompanhadas de armazenamento. Mencionou as aplicações off-grid, que permitem a redução do consumo, trazem importante redução de custos e que por isso, precisam ser incentivadas; aplicações na frente do medidor, cuja regulação é muito importante para viabilizar investimentos; serviços ancilares e aplicações atrás do medidor, que facilita o ajuste dos picos de consumo. Ele apontou a questão da redução de custos, regulatória, da demanda e a do conhecimento como fatores que podem impulsionar o armazenamento no Brasil, e que 50% das empresas do setor de energia solar já oferecem soluções híbridas com essa tecnologia.
Ricardo Tili (Aneel), enfatizou a necessidade de focar no preço-horário a fim de oferecer o preço adequado para o uso de sistemas de armazenamento no Brasil. Além disso, mencionou as ações que estão sendo realizadas pelo regulador para viabilizar o armazenamento e mitigar os entraves para o seu desenvolvimento, como a tomada de subsídios TS Aneel 11/2020. A Aneel obteve 651 respostas de 36 participantes. Comentou sobre as cinco causas e efeitos do AIR que havia sido discutido: dificuldades para coordenar, modelo remuneratório inadequado e ausência de modelagem computacional do SAE, futuro incerto, custo elevado e carência na regulação. Como soluções, apontou menor eficiência econômica na operação, uso de combustíveis fósseis para tratamento da variabilidade devido a inserção de renováveis, menor eficiência no dimensionamento de transporte de energia e redução da controlabilidade e eficiência na operação.
Para finalizar, apontou os cinco objetivos da Aneel sobre a questão do armazenamento: adaptação a regulação das outorgas para acesso as redes, avaliação de alternativa de estrutura remuneratória, avaliação de alternativa de estrutura a fim de reduzir custos, alinhamento com entidades e agentes envolvidos às novas soluções, criação de sandbox regulatório e medidas sustentáveis.
Marcelo Prais (ONS) comentou sobre a questão da flexibilidade do sistema de armazenamento, e que para cada aplicação pode haver uma regulação que requeira particularidades específicas. Trouxe a questão da insuficiência de carga para acomodar toda a geração futura acumulada – tanto no ACR quanto no ACL – e enfatizou que a sobra de geração do nordeste de 2024 a 2028 pode chegar a 50GW em 2028. Comentou sobre o déficit de geração nos períodos noturnos e excesso de geração em períodos de maior insolação, e que o excedente não pode ser transportado para outras regiões devido à falta de linhas de transmissão. Prais também apontou que o desenvolvimento dos sistemas de armazenamento pode ser a solução para resolver esta questão.
Ricardo Estefano informou que as contribuições da ABSOLAR na Consulta Pública 39/2023 da ANEEL foram na direção de permitir que as renováveis pudessem participar do leilão com adição de baterias para que se tornem despacháveis. Acrescentou que levará dez anos para que o BESS seja regulado e comentou que a solução oferecida de realizar a regulação por partes irá favorecer o setor, desbloqueando primeiramente os pontos mais complicados. Finalizou enfatizando a necessidade do desenvolvimento dos sistemas de armazenamento no Brasil para que a fonte solar se torne despachável.
No segundo painel, intitulado “Armazenamento, o coringa das fontes renováveis, como provedor de qualidade e segurança, tanto da indústria e comércio quanto da operação do sistema”, Ricardo Estefano iniciou abordando os usos do sistema de armazenamento. Destacou a importância da capacidade de armazenamento para o controle de energia pelo ONS, enfatizando que a transição energética precisa ser impulsionada pela utilização de energia limpa. Falou ainda sobre as propostas do Grupo de Trabalho que contempla a inclusão da tecnologia no leilão de reserva de capacidade, a definição do agente armazenador e a viabilização regulatória, ressaltando que a ABSOLAR já possui uma direção clara nesse sentido. Estefano, discutiu as barreiras enfrentadas e os avanços conquistados, incluindo a queda acentuada no preço das baterias nos últimos dois anos, com uma redução de 40%, e dos esforços contínuos para lidar com as questões tributárias e regulatórias, destacando as sinalizações positivas da Aneel para agilizar esses processos.
Filipe Costa, Solar Business Coordinator da Livoltek, apresentou uma análise detalhada sobre estudos de caso e exemplos práticos relacionados ao armazenamento de energia em diversas regiões do mundo. Um dos estudos de caso discutidos refere-se à implementação de um sistema de BESS conectado em média tensão em um projeto desenvolvido em parceria com a UNICAMP. O objetivo principal é integrar todos os sistemas de energia com a rede da concessionária e com o BESS, envolvendo um sistema fotovoltaico de 205 kWp conectado a um sistema de armazenamento com um banco de baterias de 1,27 MWh. Este projeto visa resolver a dificuldade conhecida como black start, que é a reinicialização do sistema em rampa em caso de falta total de energia, ou seja, sem ativar proteções ou sobrecarregar os equipamentos, e consequentemente também uma transição suave e imperceptível entre os modos off-grid e on-grid. O estudo visa contribuir para o avanço e aperfeiçoamento das tecnologias de armazenamento de energia em larga escala.
O terceiro painelista, Rafael Moura, Gerente Sênior de Vendas da Canadian Solar, discorreu sobre a associação de armazenamento de energia em baterias com projetos solares de grande porte. Ele apresentou um panorama do cenário atual, destacando uma capacidade de produção de 20GWh, ressaltando a significância desses números expressivos. Além disso, citou um estudo de caso real, em operação desde 2022, que exemplifica a aplicação desejada para o leilão de reserva de capacidade, envolvendo uma usina solar fotovoltaica que atende aos picos de demanda, substituindo usinas térmicas e a gás locais, capturando e descarregando energia conforme necessário. Moura, também mencionou o desenvolvimento de projetos de BESS, que incluem estações de transformação, packs, e contêineres de baterias adaptados às necessidades específicas de cada projeto, ressaltando a importância de envolver uma empresa de engenharia qualificada que trabalhe em conjunto com reguladores, operadores e especialistas em segurança.
O Diretor Geral do Grupo Energia, Rubens Brandt, abordou o papel crucial da Engenharia do Proprietário no dimensionamento e contratação dos sistemas de armazenamento de energia da ótica do investidor. Ele discutiu a diversidade de aplicações do BESS dentro do mercado, enfatizando a importância da arbitragem, soluções de segurança energética e compreensão do contexto de mercado para os empreendedores. Brandt, também mencionou a importância de considerar as premissas do modelo de investimento e o aspecto técnico do negócio para definir o sistema de baterias, alertando que nem todas as tecnologias e dimensionamentos são adequados para os propósitos desejados, incentivando a exploração de alternativas, como por exemplo as baterias de fluxo. Por fim, ele compartilhou sua experiência em trabalhar com investidores, demonstrando que o íon-lítio não é a única opção viável, e mencionou exemplos de projetos, incluindo um isolado na Amazônia, onde foi feita uma associação de um sistema de baterias com uma usina de GD sobre dimensionada.
O quinto painelista, Marcos Bertol, Diretor de Business Development da Atlas Renewable Energy, compartilhou insights de como aplicar no Brasil exemplos internacionais de sucesso com o BESS. Destacou dois casos em processo de implantação que obteve viabilização em um curto período no Chile, o caso da COPEC, um sistema isolado, e o da CODEL, associado a um sistema fotovoltaico. O intuito de Marcos se referia a identificar maneiras de adaptá-los ao contexto brasileiro ressaltando a necessidade do apoio regulatório para efetivação dessa aplicação. Enfatizou que a clareza da agenda regulatória no Chile e os sinais claros de demanda para viabilizar projetos foi essencial. Então, reforçou a precisão de uma regulação robusta para atrair investimentos, além da importância da sustentabilidade com a aceleração dos processos de licenciamento, garantindo que a regulamentação e a viabilidade ocorram em paralelo facilitando a entrada dos grandes investimentos no país.
Já o Coordenador de Planejamento da Expansão e Estudos na ISA CTEEP, Renato Ribeiro, discutiu a implantação dos sistemas de armazenamento no Brasil. A ISA CTEEP, que é responsável por transportar 30% da energia no Brasil e 94% em São Paulo, evidenciou a importância do armazenamento na transmissão, citando que a integração traz os benefícios da flexibilidade. Com isto, foi enfatizada a evolução da transmissão de um provedor de ativos para um provedor de serviços. Trouxe como exemplo prático o projeto de Registro (SP) que emergiu para atender a demanda no litoral sul de São Paulo, que enfrentava sobrecargas e dificuldades de acesso de engenharia, e como solução, foi implementado um sistema de baterias de 60 MWh, essencial para evitar cortes de energia durante o réveillon de 2022. Destacou a colaboração da Aneel em ser totalmente aberta para receber esse projeto de inovação tecnológica mesmo sem uma regulamentação específica vigente.
O painel foi encerrado pelo Filipe Kaee, Senior Regulatory Engineer da Quantum, que falou sobre a inserção de BESS na rede básica como ativo de transmissão, destacando que o projeto de P&D da empresa visa estudar uma forma sustentável de integrar as baterias à transmissão. O projeto, concebido visando atender às necessidades da EPE e do ONS, busca entregar uma alternativa sólida e metodológica para o planejamento de expansão e despacho de energia. Os benefícios, como flexibilidade, confiabilidade e resiliência, estão sendo estudados de forma que se possam atribuir valores à esses benefícios e permitir que o uso das baterias integre a análise da EPE na hora de comparar com outras soluções, além de buscar os pontos ideais de como inserir o armazenamento de maneira que esses benefícios sejam capturados. Kaee ressaltou que o BESS será o futuro do setor energético.
A terceira sessão, teve como tema “Marco legal e o futuro do H2V como vetor de descarbonização para o Brasil” discutiu os aspectos regulatórios, o mercado atual e futuro, e desafios para o desenvolvimento do setor. A Coordenadora do Grupo de Trabalho de Hidrogênio Verde da ABSOLAR e Head de Serviços de Consultoria e Sócia da Cela, Marília Rabassa, enfatizou a importância do hidrogênio verde no setor elétrico, destacando o potencial do Brasil para produzir esse tipo de hidrogênio de forma competitiva até 2030. Felipe Boechem, Sócio da Prática de Energia e Infraestrutura e Líder da prática de Petróleo e Gás do Lefosse Advogados, incluindo biocombustíveis e hidrogênio, mencionou a importância de definir termos como “hidrogênio de baixo carbono” e “hidrogênio limpo” para estabelecer critérios de certificação e incentivos adequados, além de sugerir políticas públicas coordenadas para estimular a demanda.
Na discussão sobre os desafios da regulação do hidrogênio renovável no Brasil, André Themoteo, Analista Técnico Sênior da Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEólica, e Tamar Roitman, Gerente Executiva da Associação Brasileira do Biogás – ABiogás, destacaram a importância de políticas públicas e regulação para impulsionar o desenvolvimento do setor, competindo com combustíveis fósseis. Eles também enfatizaram a necessidade de uma regulamentação que não trave o desenvolvimento do mercado.
Sobre a possibilidade de sinergia no uso de várias fontes de energia para a produção de hidrogênio verde, os participantes concordaram que a integração de diferentes fontes pode ser relevante, desde que não haja restrições regulatórias que limitem o desenvolvimento do mercado. A flexibilidade e liberdade para o mercado se adaptar foram consideradas essenciais.
Quanto à melhor forma de estimular a demanda do mercado, foram sugeridas medidas como demandas obrigatórias para o uso de hidrogênio renovável em refinarias e injeção de hidrogênio em tubulações de gás natural. A precificação do carbono também foi apontada como uma forma de incentivar a indústria a adotar práticas mais sustentáveis.
Por fim, os participantes concordaram que a definição rápida de um marco regulatório é crucial para o avanço da indústria de hidrogênio no Brasil. A agilidade na definição do marco legal, regulamentações claras e agente regulador bem especificado foram os tópicos destacados como elementos essenciais para o desenvolvimento do setor.
No último painel, sobre “Projetos em desenvolvimento e aplicações do H2V que podem tornar o Brasil uma referência mundial”, Eduardo Tobias, Vice-coordenador do Grupo de Trabalho de H2V da ABSOLAR e Sócio-Diretor da Watt Capital, evidenciou que o Brasil tem o maior potencial de produção de H2V do mundo e destacou as vantagens desse vetor energético, mas enfatizou que o principal desafio ainda é o custo, que é mais caro do que o produzido a partir de combustíveis fosseis. Logo, é essencial criar competividade no produto para reduzir os preços.
Donato Filho, Diretor Geral da Volt Robotics, começou a sua fala explicando como utilizar as sobras de energia em distribuidoras para produção de H2V e detalhou que a sobra pode ser gerada pelas alterações no comportamento dos consumidores, que na busca por energia mais barata, vem utilizando outras formas de contratação de suprimento (autoprodução, mercado livre, GD) para economizar em sua conta de luz. Sendo assim, o ideal é que essa sobrecontratação de energia fosse utilizada para produção do H2V e consequentemente reduzir a conta de energia elétrica pela diminuição dos custos com a compra de energia não utilizada.
Alisson Camargo, Gerente de Hidrogênio Verde da AES Brasil, iniciou destacando a estratégia global da AES, enfatizando que a empresa contém 5,2 GW instalado, com eólica, hidráulica e solar, e comentou que ainda tem 4 GW no portifólio de crescimento. Na mesma linha, exemplificou que a meta da empresa é a produção de 1.200 ton/dia de H2V em 2030, com investimentos de 20 bilhões de dólares. Para consolidar essa estratégia eles têm sua Joy Venture com a Air Products e em paralelo, projetos Latam no México, Chile, Colômbia e Brasil, com estimativas de 250 ton/dia de H2V e de 0,8 GW a 1,2 GW de eletrolisadores. Esses parques terão potência instalada de 2 GW cada. Além disso, a AES Brasil está investindo forte no porto do Pecém, com 800 mil toneladas de amônia verde por ano, equivalentes a 150 mil toneladas de H2V por ano.
No momento do debate, Marilia Rabassa perguntou ao Alisson se a decisão geográfica de entrar no mercado de H2V nos EUA foi muito influenciada pelo incentivo do I-REC, que traz até 3 dólares/kg no preço do H2V? Alisson respondeu que sim, esse incentivo ajudou muito na viabilidade econômica com baixo risco dos projetos e operação comercial prevista para 2027.
O público direcionou outras perguntas a ele, referente a comparação de custos de produção de H2V no Brasil com os demais países da América Latina, e qual o risco de obtenção de água para o projeto de Pecém. Foi mencionado que o Brasil tem um diferencial, pois tem um fator de capacidade muito bom, com a melhor radiação solar e vento do mundo, logo, tem-se preços muito competitivos com valores que variam entre 6 ou 10 dólares/kg de H2V. E sobre a pergunta da água tem-se duas rotas, o governo do Ceará tem um projeto para utilização de água de reuso, o que dará ao esgoto de Fortaleza um fim nobre, e a segunda rota, que seria a dessalinização de água do mar, que também seria uma boa oportunidade, com menos impacto ambiental.
Já Donato foi questionado se a “Neo-industrialização” é um caminho viável para aproveitar a sobrecontratação de energia no mercado cativo. Donato respondeu que essa sobra veio acontecendo por consequência da criação de incentivos econômicos para sair do ACR, o que trouxe a oportunidade de criação de novos modelos de negócio no mercado de energia, como eletrificar as frotas, incentivo para o consumo de noite e de manhã, o que equilibraria os despachos das usinas e deixaria a energia elétrica mais barata, evitando o acionamento de térmicas.
Para Dierce Wiques, Diretor de Engenharia e Projetos da Chlorum Solutions, foi perguntado sobre o quanto de economia se obtém com o uso do H2V que está sendo desperdiçado. Dierce respondeu que estariam economizando cerca de R$ 9 milhões ao ano por planta, logo, em dois anos, com o montante de todas as plantas da empresa, daria para construir uma planta de H2V.
A última pergunta foi novamente para o Donato, questionando se o plano de recuperação dos reservatórios do governo federal, que prevê que as hidrelétricas passem a ser operadas para fornecer potência e flexibilidade, reduzindo sua contribuição para produção energética, tinha sido considerada nas estimativas apresentadas. Donato respondeu que ainda não tem essa consideração, mas é possível fazer essas suposições e simular novamente para ver o que acontece com o preço/tarifa da energia elétrica.