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Resumo Executivo Encontro Nacional ABSOLAR 2025

Confira abaixo o resumo que a área técnica da ABSOLAR fez de cada painel do ENCONTRO NACIONAL, evento realizado em São Paulo (SP) nos dias 11 e 12 de dezembro.

CERIMÔNIA DE ABERTURA

Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho da ABSOLAR, trouxe uma leitura do contexto político e econômico. Classificou 2025 como um ano extremamente desafiador, marcado por curtailment e juros elevados, que impactaram fortemente a geração distribuída. Relatou os embates enfrentados em Brasília e destacou a mobilização do setor e da sociedade como decisiva para barrar retrocessos legislativos. Projetou 2026 ainda como um período de resistência, mas sinalizou um cenário mais promissor a partir de 2027, incentivando empresários a fortalecerem redes de relacionamento para atravessar a fase crítica.

Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR, complementou a análise com uma visão estratégica e institucional, reforçando que a transição para fontes renováveis, com destaque para a solar e o armazenamento, é um movimento global irreversível. Destacou o papel da ABSOLAR em apoiar o setor nos momentos mais difíceis e em manter a ambição de tornar a energia solar a principal fonte da matriz elétrica brasileira.

Jonas dos Santos, representante da WEG, falou em nome da empresa anfitriã, enfatizando a importância da união do setor privado. Reconheceu a atuação da ABSOLAR em Brasília na defesa da segurança jurídica e na mitigação de impactos de medidas provisórias, preservando o ambiente de investimentos. Apontou o armazenamento de energia como a próxima grande fronteira de crescimento do mercado, destacando a necessidade de capacitação e preparação das empresas para essa nova fase.

Alessandra Andrade, Presidente da SP Negócios S.A. e representante do Prefeito Ricardo Nunes, trouxe a perspectiva do desenvolvimento econômico urbano. Destacou a forte atração de empresas para a capital paulista e o consequente aumento da demanda por energia limpa, impulsionada especialmente pela expansão de data centers. Apresentou números que evidenciam a relevância econômica do setor, com avaliação de cerca de R$ 24 bilhões em 2023 e projeção de crescimento para R$ 35 bilhões até 2029.

Tarcísio Branco Amorim, Diretor de Energias Renováveis da SDE do Governo da Bahia, apresentou a visão do governo estadual e do Nordeste, com foco em política pública e infraestrutura. Enfatizou a importância dos novos investimentos em transmissão, após um longo período sem leilões, para permitir o escoamento da energia gerada no Nordeste e reduzir o curtailment. Destacou ainda o crescimento expressivo da geração distribuída na Bahia entre 2024 e 2025.

Romeu Zema, Governador de Minas Gerais, em vídeo, encerrou a participação institucional reafirmando a liderança de Minas Gerais na energia solar no Brasil. Destacou a presença de projetos solares em todos os municípios do estado e os mais de R$ 80 bilhões investidos em energia limpa desde 2019, reforçando o compromisso estadual com a transição energética.

Palco Azul: Painel 1 - Cortes de geração: caminhos para minimizar impactos

Christian Cecchini, Especialista Técnico-Regulatório, abriu o painel com uma visão geral sobre o cenário atual dos cortes de geração, contextualizando o curtailment no sistema elétrico brasileiro. Destacou os principais fatores que têm levado ao aumento dos cortes, como a sobreoferta de energia em determinados períodos, limitações operacionais do sistema e gargalos de transmissão, reforçando que o problema é estrutural e demanda soluções coordenadas.

Rafael Rezende Macedo, Country Manager da CGN Brasil Energia, Apontou três pilares fundamentais para a mitigação do curtailment: aumento da flexibilidade do sistema, resposta da demanda e uso de tecnologias de suporte à operação. Ressaltou a falta de previsibilidade regulatória e de segurança jurídica como entraves à implementação de sistemas de armazenamento de energia. Destacou que o armazenamento pode ser remunerado de diversas formas além da simples estocagem, incluindo prestação de serviços ancilares, alívio da curva de carga e suporte à operação do sistema.

Tiago Ferreira, Sócio da Alvarez & Marsal, comentou a avaliação do ONS de que a carga do sistema é altamente inflexível, o que intensifica os desafios operacionais. Enfatizou que os sistemas de armazenamento tendem a assumir um papel semelhante ao que a energia solar ocupou nos últimos anos, tornando-se uma nova fronteira relevante para investimentos no setor elétrico.

Raphael Gomes, Sócio do Lefosse Advogados, Destacou que a Lei nº 15.269 evidencia a insegurança jurídica existente no setor, especialmente pela ausência de prazos claros e critérios bem definidos para a implementação do armazenamento e de mecanismos associados. Ressaltou que ainda há um caminho regulatório a ser construído e apontou a possibilidade de ressarcimento como um tema que poderá ser discutido no âmbito jurídico e regulatório.

Palco Azul: Painel 2 - Geração Distribuída na prática: cases de sucesso

Bruno Catta Preta, Coordenador Estadual de Minas Gerais, mostrou o cenário da geração distribuída e a oportunidade que se apresenta no setor de armazenamento, ressaltando que quem se posicionar primeiro para atender a essa nova demanda poderá ter muito sucesso.

Denilson, Especialista de Produtos da Sungrow, apresentou 2 funcionalidades presentes em inversores, seus benefícios e como podem ser utilizados sendo eles o MPPT Global que melhora o desempenho mediante faixa de sombra temporária e a avaliação da curva IV, que permite identificar diversos problemas e com isso,  tomar ações corretivas.

Ediléu, CEO da KWP Energia, apresentou os impactos e o benefícios da solar flutuante, destacando sua proximidade com os centros de consumo, redução da evaporação e a não necessidade de desmatamentos.

Olivia DelPuppo, Coordenadora de Regulação e Gestão de Energia, apresentou uma plataforma de soluções de descarbonização sem investimento, ressaltando as energy as a service behind the meter com casos práticos.

Eduardo Botto, Portfólio Maneger na Brasol, falou sobre qual a estratégia que os investidores têm que adotar para manter a atratividade da geração distribuída por assinatura para os consumidores.

Mauro Sirtoli, Diretor Comercial da Clamper, falou sobre a importância dos DPS (Dispositivo de Proteção contra Surtos) e seus tipos para os sistemas elétricos, trazendo os benefícios desse tipo de proteção, seus custos e os prejuízos evitados

Palco Azul - Painel 3 - Desafios na operação do sistema - a visão do operador dos agentes (Mesa redonda)

Marcio Trannin, Vice-presidente da ABSOLAR, destacou que o setor de renováveis vive sua maior crise por causa dos cortes de geração e dos riscos operativos crescentes. Alertou para a possibilidade de blackout em dias críticos e defendeu que o foco imediato precisa ser a operação do sistema, buscando soluções de curto prazo enquanto alternativas estruturais, como baterias, ainda não estão amplamente disponíveis.

Rodrigo Borges, Market Lead na Aurora, abordou a necessidade de melhorar os sinais econômicos do setor, reforçando que hoje o preço não reflete a realidade da operação. Falou sobre resposta da demanda, sinal locacional para novos projetos e a criação de mercados de potência e serviços ancilares. Para ele, modernizar a formação de preços e incentivar a flexibilidade é essencial para reduzir os cortes e tornar o sistema mais eficiente.

Daniel Dotta, professor da Unicamp, explicou como a entrada massiva da fonte solar mudou completamente a dinâmica elétrica do sistema. Destacou dificuldades modelagem, diferenças entre comportamento real e simulado e a necessidade de aprender a operar esse novo perfil de rede.

Nilton Marcello, Gerente de Planejamento e Projetos da Isa Cteep, reforçou que a transição energética depende de uma transmissão moderna, digitalizada e robusta. Apontou os desafios das grandes rampas de carga e da expansão acelerada das renováveis, destacando investimentos em modernização, digitalização e gestão integrada para manter o sistema seguro e resiliente.

Palco Azul: Painel 4 - Data centers e novas cargas do setor elétrico

Camila Ramos, Vice-presidente de Investimento e Hidrogênio Verde da ABSOLAR, destacou como o hidrogênio Verde está ganhando espaço no Brasil e reforçou que o País tem vantagens competitivas por causa da matriz renovável e do potencial de expansão da energia solar. Comentou sobre a importância de criar segurança regulatória e atrair investimentos para que os projetos realmente saiam do papel. Também trouxe a visão de que o hidrogênio Verde pode impulsionar novas cadeias produtivas e posicionar o Brasil como protagonista global na transição energética.

Piero Carli vice-presidente da Design da Ada Infrastructure, falou sobre como a infraestrutura digital, especialmente data centers, precisa acompanhar o crescimento da demanda energética de forma eficiente e sustentável. Explicou que o design desses sistemas tem buscado reduzir consumo, otimizar operação e integrar soluções renováveis, incluindo solar.

Marcela Martins, Diretora de Gestão Energética da Ascenty Data Energy, destacou que, para data centers, energia é um dos principais custos, por isso a autoprodução virou estratégia fundamental para garantir eficiência e competitividade. Ela explicou que a demanda do setor explodiu, antes se pedia 3–4 MW, agora 70–100 MW, equivalente ao consumo de uma cidade de 100 mil habitantes.

Rafael Dolabela, Executivo de Tecnologia, explicou que a energia virou o principal fator na escolha de localização de data centers, superando outros critérios tradicionais. Ele destacou que o avanço da inteligência artificial aumentou drasticamente a demanda por processamento e, como consequência, por energia, já que modelos de IA consomem muitas vezes mais do que algoritmos antigos.

Renan Lima, Presidente da ABDC, explicou que o projeto Brasil no mapa busca posicionar o país como destino competitivo para data centers, já que o Brasil possui mais da metade da capacidade instalada da América Latina, embora isso ainda seja pouco reconhecido no exterior. Ele destacou três pontos essenciais para atrair investimentos: ajuste fiscal para reduzir a carga de impostos sobre a infraestrutura, agilidade nos processos de conexão de energia, que hoje demoram muitos meses e dificultam novos projetos, e criação de um ambiente regulatório seguro para inteligência artificial.

Palco Azul: Painel 5 - Aprimoramentos legais e regulatórios necessários para a modernização do setor

Talita Porto, Diretora Técnico-regulatória da ABSOLAR fez uma contextualização das reformas setoriais, passando pela consolidação das MPs 1300 e 1304. Destacou como a matriz elétrica mudou, antes majoritariamente hidráulica e agora quase 90% renovável e como essa transição exige uma modernização regulatória.

Isabella Vieira, Diretoria de Programa do MME, apresentou a visão do Ministério sobre a reforma, explicando que o objetivo das MPs era criar mudanças rápidas, possíveis e que destravassem discussões maiores. Destacou a simplificação da tarifa social, a abertura total do mercado com datas definidas e as medidas de equilíbrio entre os ambientes livre e regulado.

Renata Nogueira, Assessora da Diretoria da EPE, apresentou as mudanças legais ao planejamento energético, mostrando como a expansão renovável e os gargalos de transmissão demandam soluções como armazenamento e novos modelos de operação.

César Pereira, Gerente executivo de Regulação da CCEE, apresentou como a CCEE está se preparando para a abertura total do mercado, destacou dados de migração, mostrando o forte crescimento do ACL. Detalhou pontos regulatórios ainda necessários, como o SUI, Open Energy e aprimoramentos de segurança de mercado. Enfatizou que a migração não é obrigatória e que o consumidor mantém a liberdade de migrar ou não. Também defendeu simplificações para permitir que o consumidor com MMGD participe plenamente do mercado livre.

Jovanio Santos, Diretor da Deloitte, apresentou a visão da consultoria sobre as mudanças do setor, destacando tendências globais como digitalização, empoderamento do consumidor, novos modelos de negócio e avanço tecnológico

Palco Verde: Painel 1 - Perspectivas na política, economia e no setor elétrico brasileiro

O painel foi iniciado por Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR, que apresentou o que podemos esperar e o papel da ABSOLAR no ano de 2026. Destacou pontos de atenção para o próximo ano, como a taxa básica de juros, curtailment e Fio B. Sauaia também discutiu fatores setoriais que devem influenciar o próximo ano, como custos e benefícios da GD, Reidi, regulamentação de armazenamento de energia elétrica e LCARP 2026.

Renan Gomes de Pieri, Doutor em Economia e Professor da FGV, iniciou a apresentação falando sobre o Brasil nos últimos anos, dando destaque ao crescimento do PIB no pós-pandemia. Renan explicou que ao observar o PIB setorial, nota-se que o setor de serviços possui o maior peso, mas o setor agrícola tem impulsionado o crescimento.

Rafael Cortez, Sócio da Tendências Consultoria, apresentou aspectos das eleições e agenda econômica. Enfatizou que quando se fala em economia política, o equilíbrio político é traduzido em taxas de juros elevado.

Cristiano Augusto, Diretor do Departamento de Políticas para o Mercado do Ministério de Minas e Energia, apresentou as perspectivas para o setor elétrico brasileiro. Atualmente, temos um grande desafio do setor — a curva de pato e, com isso, o curtailment, classificado em 3 pilares: (I) Razão Energética, com sobreoferta de energia — impossibilidade de alocação da geração de energia na carga; (II) Razão de Confiabilidade, garantindo requisitos de segurança do SIN e de áreas elétricas; (III) Razão de Indisponibilidade, com indisponibilidade de equipamentos e transmissão existentes.

Tchiarles Hilbig, Market Area Manager South America da DNV, apresentou a empresa, explicando sobre sua filosofia e padrões. Tchiarles enfatizou que 79% da eletricidade global deverá vir das energias solar e eólica em 2060.

Atualmente, o armazenamento de energia está se tornando, cada vez mais, realidade. Tchiarles enfatizou que há um grande entusiasmo pelo leilão de capacidade que ocorrerá em 2026. O armazenamento é essencial para a inclusão de energias renováveis variáveis no sistema elétrico. É esperado que o armazenamento conectado à rede em todo o mundo ainda irá expandir cerca de 25 vezes. De 2,4 TWh em 2024 para 60 TWh até 2060. As baterias de íons de lítio estão prontas para assumir a principal tecnologia de armazenamento, com custos médios esperado que caia de cerca de US$ 370/MWh em 2024 para US$ 235 até 2030 e para US$ 155 até 2050.

Palco Verde: Painel 2 - O futuro da energia solar FV no Brasil na visão de líderes do mercado

O painel foi iniciado pelo Conselheiro da ABSOLAR, Rodrigo Pedroso, apresentando sobre a inserção da tecnologia de armazenamento de energia elétrica do Brasil. Ele destacou que a demanda pela tecnologia deve aumentar nos próximos anos, espacialmente com a maior inserção de fontes renováveis variáveis na matriz elétrica.

Rubens Brandt, CEO do Grupo Energia, informou que atualmente o setor solar não passa por um bom momento, com a GC sofrendo diversas consequências de um mercado que não está andando bem. Novos projetos andam sendo postergados e grandes investidores estão fechando suas áreas de novos negócios.

Rodrigo Avila, Sócio Diretor da Tailor Insurance, informou sobre os sinistros que andam ocorrendo periodicamente em parques solares e a necessidade de uma boa gestão de risco com foco na (I) Identificação; (II) Classificação; (III) Mitigação; e (IIII) Monitoramento Contínuo. A identificação dos riscos para usinas fotovoltaicas é essencial para o funcionamento, mesmo que haja diversos riscos, tais como, Riscos Técnicos e Operacionais, Riscos Ambientais e Climáticos, Riscos em Transportes, Riscos Regulatórios e Legais, Riscos de Segurança e Cibernéticos, Riscos Financeiros e Econômicos. Com isso, pode-se elaborar uma matriz de riscos contendo análise de probabilidades de impactos.

Márcio Takata, CEO da Greener, finalizou o painel apresentando o futuro do mercado e novos negócios. Takata abordou os novos modelos de negócio na geração distribuída, destacando que o cenário mudou, pois o tradicional modelo de negócio baseado na venda e Instalação de sistemas FV, embora ainda relevante, não garante mais competitividade em um mercado caracterizado por consumidores mais informados e exigentes. O CEO da Greener destacou que este é o momento de aprender com o mercado, acompanhar as tendências e investir na capacitação junto à empresas confiáveis.

Palco Verde: Painel 3 - Integração dos recursos distribuídos: como otimizar a rede elétrica?

Guilherme Susteras, Conselheiro da ABSOLAR, conduziu o debate trazendo provocações relevantes sobre o mercado de recursos energéticos distribuídos no Brasil. Destacou que a geração compartilhada ainda é tratada como um tabu por parte do setor regulatório, sendo muitas vezes associada à comercialização irregular de energia por órgãos como a ANEEL e o TCU, quando poderia ser encarada como uma oportunidade de transformação estrutural do setor elétrico. Guilherme também ressaltou a necessidade de evoluir o papel das distribuidoras para operadoras de sistemas de distribuição, conectando os temas de geração distribuída, armazenamento, eletromobilidade e operação das redes como partes de uma mudança de paradigma já em curso.

Cleidiane Venturim, CFO da Fortlev Solar, abordou o papel estratégico do consumidor no sistema elétrico do futuro, destacando que a geração distribuída solar já é uma realidade consolidada no Brasil, impulsionada pela evolução regulatória e tecnológica. Ressaltou que o consumidor passou a assumir um papel protagonista na matriz energética, contribuindo para a redução de perdas, descentralização da geração e alívio das redes de transmissão. Enfatizou ainda a importância da garantia da estabilidade do sistema por meio do uso de baterias, do deslocamento do consumo e do fortalecimento de mercados locais e comunidades energéticas, apontando esses modelos como oportunidades para reduzir custos, estimular investimentos regionais e ampliar a competitividade do setor elétrico.

Ivan Viero Sarturi, Engenheiro da PHB Solar, apresentou a eletromobilidade e o armazenamento de energia como vetores essenciais para a transformação do sistema elétrico, destacando os desafios econômicos e operacionais enfrentados na implantação de estações de recarga rápida no Brasil. Abordou os altos custos de demanda, tarifas de ponta e reforços de rede, defendendo o uso de sistemas de armazenamento como solução para aplicações como peak shaving, time shift e autoconsumo local. Ivan ressaltou que o BESS atua como complemento aos grupos geradores, aumentando a resiliência do sistema, reduzindo riscos de investimento e viabilizando modelos de negócio mais flexíveis e sustentáveis no mercado de energia.

Fillipe Soares, Diretor da Thymos destacou a mudança de paradigma na operação das redes de distribuição, enfatizando a necessidade de evolução das distribuidoras para operadoras de sistemas de distribuição (DSO). Ressaltou que o crescimento da fonte solar no Brasil foi majoritariamente resultado da escolha direta do consumidor, viabilizada por ajustes regulatórios e incentivos, e conectou os desafios recentes de confiabilidade do sistema à necessidade de redes mais resilientes e integradas. Filipe enfatizou ainda a importância de uma gestão mais dinâmica dos recursos energéticos distribuídos, com ciclos de planejamento cada vez mais curtos, aprendizado a partir de experiências internacionais e atuação coordenada entre reguladores, formuladores de políticas públicas e agentes do setor.

Palco Verde: Painel 4 - Cenário legal e regulatório para Geração Distribuída no Brasil

Bárbara Rubim, Vice-presidente de Geração Distribuída da ABSOLAR, abriu o painel contextualizando 2025 como um ano extremamente desafiador para a geração distribuída, marcado por relativa estabilidade regulatória no início e forte turbulência nos últimos meses, com medidas provisórias e intensos debates no Congresso. Destacou temas que permanecem no horizonte de 2026, como cortes de geração, tarifa branca compulsória, tomada de subsídios do encontro de contas previsto na Lei 14.300, regulamentação do armazenamento, eletromobilidade, gestão de excedentes e expansão da GD à revelia das distribuidoras. Ressaltou que 2026 será um ano crítico, tanto pelo volume de pautas regulatórias quanto pelo contexto político, com eleições e Copa do Mundo, reforçando a importância de participação ativa do setor nos processos regulatórios.

Pedro Uzai, Deputado Federal, apresentou uma visão política e institucional sobre a energia solar no Brasil, destacando o rápido crescimento da fonte e as contradições surgidas com sua expansão acelerada. Defendeu a necessidade de previsibilidade, segurança jurídica e estabilidade regulatória para sustentar o desenvolvimento do setor, ressaltando que o país não pode abdicar do potencial da energia solar como eixo central da matriz energética. Destacou iniciativas legislativas voltadas à microgeração, geração compartilhada e cooperativas solares, incluindo a criação de fundos garantidores e mecanismos de financiamento público, com o objetivo de democratizar o acesso à energia solar e fomentar investimentos regionais.

Fernando Mosna, Diretor da ANEEL, abordou os principais desafios regulatórios da geração distribuída para o próximo biênio, destacando como prioridade a conclusão da regulamentação do cálculo de custos e benefícios prevista na Lei 14.300. Explicou que o crescimento acelerado da GD trouxe impactos operacionais relevantes ao sistema elétrico, incluindo situações de excesso de geração, exigindo soluções que preservem a confiabilidade do sistema sem desconsiderar os benefícios da GD. Ressaltou que temas como cortes operacionais, armazenamento de energia, modernização tarifária, abertura do mercado e medidores inteligentes precisarão ser tratados de forma coordenada, garantindo sinais econômicos adequados, respeito aos direitos adquiridos e previsibilidade para consumidores e investidores.

Marina de Santana, Advogada da Dias Carneiro Advogados, trouxe uma reflexão jurídica sobre o dilema entre previsibilidade regulatória e espaço para inovação no setor elétrico, ressaltando que o arcabouço normativo brasileiro, em grande parte concebido nos anos 1990, enfrenta limitações para absorver transformações tecnológicas aceleradas. Destacou que nem todos os desafios atuais podem ser resolvidos apenas por interpretação normativa, defendendo a necessidade de adaptação regulatória consciente às novas realidades físicas, como excesso de geração, armazenamento distribuído e mobilidade elétrica. Enfatizou que a ausência de uma estratégia clara de longo prazo para o setor intensifica conflitos regulatórios e reforçou a importância de modelos de transição que preservem investimentos existentes enquanto permitem a inovação.

Raphael Roque, Gerente de Produto da Faro Energy, abordou a percepção dos investidores sobre o setor de geração distribuída, destacando que o ambiente macroeconômico, especialmente a elevada taxa de juros, impacta diretamente os investimentos em MMGD. Criticou a narrativa que posiciona a GD como vilã tarifária, argumentando que ela introduziu competição, descentralização e escolha do consumidor em um setor historicamente concentrado. Defendeu a modernização tarifária, a regulamentação do armazenamento atrás do medidor e o respeito aos acordos estabelecidos na Lei 14.300 como essenciais para restaurar a confiança dos investidores. Ressaltou que, apesar da desaceleração momentânea, a GD mantém forte apetite de crescimento e grande potencial de atrair investimentos estruturantes para o país.

Palco Verde: Painel 5 - Agrivoltaico e usos múltiplos na Geração Distribuída

Francisco Maiello, Coordenador Estadual de Goiás da ABSOLAR, apresentou sobre o agrivoltaico e usos múltiplos na Geração distribuída. Alegou que a adoção da energia solar fotovoltaica nas propriedades rurais traz múltiplos benefícios. Além da redução dos custos de eletricidade e da maior autonomia no suprimento energético, os sistemas fotovoltaicos contribuem para o aproveitamento mais eficiente da terra e podem melhorar o microclima local, reduzindo o estresse térmico de culturas e animais e, em alguns casos, diminuindo o consumo de água na irrigação. Maiello destacou que a energia solar fotovoltaica tem se consolidado como uma aliada estratégica para o agronegócio brasileiro, ao promover sustentabilidade, reduzir custos, ampliar a autonomia energética e otimizar o uso da terra e da água, ela reforça a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico do campo, fortalecendo o papel do Brasil como referência em energia limpa e agricultura sustentável.

Em 2025, um levantamento realizado pela EPE, destaca que em 2024 o consumo de energia elétrica nas zonas rurais representou 5% do total nacional, evidenciando o potencial de expansão do uso de fontes renováveis no setor. Entre as aplicações mais comuns da energia solar no meio rural estão a iluminação, o acionamento de sistemas de irrigação, o funcionamento de secadores, cercas elétricas, equipamentos de dessalinização e soluções de telecomunicação.

Ramon Gomes, Diretor Executivo da Valmont, destacou a necessidade de avançar na coordenação regulatória para novos modelos como microredes e sandboxes, ressaltando o potencial da geração distribuída e das soluções energéticas para reativação de áreas degradadas e incentivo à agricultura familiar e de baixa renda. Enfatizou que produzir energia no próprio local de consumo é transformador para o produtor rural, reduz custos, gera autonomia energética e fortalece economias locais, defendendo a urgência de regulamentação para microredes a fim de evitar perda de investimentos e garantir integração eficiente com o sistema elétrico.

Maicon Mizael, Coordenador da Bauer, apresentou uma visão comparativa entre o modelo tradicional de geração de energia no agronegócio e o agrivoltaico, destacando que o Brasil ainda possui grande déficit energético para expansão da irrigação, com potencial de até 76 milhões de hectares irrigáveis. Defendeu que, no curto prazo, sistemas híbridos tradicionais — combinando solar, diesel, baterias e microredes — são mais maduros e viáveis para atender o produtor rural, enquanto o agrivoltaico demanda maior pesquisa e desenvolvimento. Ressaltou, porém, que o agrivoltaico representa uma evolução natural, ao otimizar simultaneamente o uso da terra, da água e da energia, trazendo ganhos de eficiência agrícola, redução da evapotranspiração e aumento de produtividade em culturas específicas.

Cristiano Saito, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Aggreko, trouxe a perspectiva de quem vem do setor de geração térmica, ressaltando que térmica não deve ser confundida exclusivamente com fonte fóssil. Destacou a experiência da empresa em sistemas híbridos, microredes e operação de sistemas isolados, defendendo a integração entre geração solar, armazenamento e geração térmica a biocombustíveis — especialmente biogás e biometano — como caminho para garantir confiabilidade, disponibilidade e transição energética no agronegócio. Apontou o grande desafio energético da expansão agrícola brasileira e destacou o potencial do biogás de origem agrícola como solução sustentável, capaz de reduzir custos, emissões e ampliar a autonomia energética dos produtores.

Murilo Bonetto, Gerente de Produto da Nextracker, apresentou uma visão técnica e estratégica sobre o agrivoltaico em larga escala, defendendo a mudança de paradigma na concepção de usinas solares, que passam a integrar geração de energia e produção agrícola no mesmo espaço. Explicou como trackers elevados permitem otimizar o uso da terra, controlar o microclima, reduzir estresse térmico das plantas e animais e manter a produtividade agrícola, citando diversos cases nacionais e internacionais. Ressaltou que a viabilidade do agrivoltaico depende de engenharia integrada, envolvendo agrônomos, produtores e projetistas, além de ferramentas avançadas de modelagem que considerem simultaneamente desempenho energético e produtividade agrícola.

Palco Laranja: Painel 1 - Flexibilidade e capacidade do SIN: Armazenamento como ferramenta chave para o futuro da operação do sistema elétrico

Rafael Moura, como moderador do painel e coordenador do Grupo de Trabalho de Armazenamento da ABSOLAR, abriu o painel falando da evolução da regulamentação de armazenamento de energia no Brasil, onde, por meio de audiências públicas, consultas públicas e tomadas de subsídio, ABSOLAR tem atuado consistentemente. Abordou as principais aplicações, queda do preço da tecnologia e um exemplo de projeto implementado.

Harry Neto, falou de duas grandes frentes de negócio da WEG, micorredes e nanorredes, apresentando aplicações e exemplos no Brasil, como junto ao agronegócio, carregamento de veículos elétricos, sistemas isolados, comércio e indústria. Ainda destacou projetos em sistemas isolados, com ênfase para Fernando de Noronha, onde está em desenvolvimento uma solução com 20 MW de geração solar e 60 MWh de armazenamento, com o objetivo de reduzir drasticamente o uso de diesel e tornar a matriz da ilha praticamente 100% renovável. Harry também abordou o papel essencial das baterias no carregamento de veículos elétricos, especialmente em garagens de ônibus, onde a rede existente pode não suportar carregamentos simultâneos de alta potência.

Vinicius Berná, representante da CELA, apresentou as principais motivações para o uso do armazenamento junto ao sistema elétrico brasileiro, dentre elas o curtailment, a rampa de carga ao final da tarde e a estabilidade do sistema elétrico. Enfatizou o cenário absurdo que já acontece onde há cortes de geração e acionamento de térmicas por falta de potência no mesmo dia. Ele alertou que, a partir de 2027 ou 2028, o Brasil enfrentará um déficit estrutural de potência para atender a rampa de consumo no início da noite, exigindo uma resposta cada vez mais agressiva das hidrelétricas. Nesse contexto, defendeu que as baterias são a solução mais madura, rápida e escalável para enfrentar esse desafio, com prazos de implantação entre dois e três anos.

Vitor Goulart abordou as motivações para o uso do BESS, como o aumento da complexidade do sistema elétrico e a menor despachabilidade da geração. Apresentou casos, em outros países, onde a rampa de carga tem sido reduzida com o uso do BESS. Ele destacou que, segundo projeções, as fontes variáveis poderão representar até 48% da matriz em 2050, tornando indispensável o uso de tecnologias que tragam flexibilidade ao sistema. Como referência internacional, citou a Califórnia, que vem conseguindo suavizar a “curva do pato” por meio da adoção massiva de baterias. No caso brasileiro, defendeu a estratégia de unir armazenamento instalado junto a usinas solares existentes.

Roberto Valer, representante da Huawei, apresentou um panorama mundial de dificuldades em diferentes sistemas elétricos que motivaram a aplicação de baterias em vários países. Compartilhou experiências internacionais, comparando o Brasil ao Chile, onde o curtailment é penalizado financeiramente, incentivando a adoção de baterias, e à China, que adotou políticas de obrigatoriedade de armazenamento junto a novas usinas renováveis. Roberto enfatizou que, em um sistema elétrico dominado por fontes renováveis, as baterias precisam ir além do modelo grid-following e assumir funções grid-forming, fornecendo inércia sintética e estabilidade, atuando como geradores síncronos virtuais. Abordou diferentes aplicações, como a substituição da geração à diesel nos sistemas isolados e a mitigação da deficiência da rede elétrica para o abastecimento de veículos elétricos. Também apresentou a vantagem da tecnologia grid forming.

Palco Laranja: Painel 2 - Marco Legal do Armazenamento: Caminhos para Regulação e Expansão

Mariana Galhardo, Vice Coordenadora do GT Armazenamento, conduziu o painel contextualizando 2026 como um ano decisivo que exigirá convergência e construção de pontes entre os agentes, diante da intensa agenda regulatória. Destacou que, apesar do avanço trazido pela Lei nº 15.269/2025, permanecem lacunas relevantes — como a regulamentação do REIDI e a preparação para o leilão de reserva de capacidade de abril de 2026. Enquadrou o armazenamento como um verdadeiro “canivete suíço” do setor elétrico, capaz de prestar múltiplos serviços ao sistema, mas alertou que esse potencial ainda precisa ser traduzido de forma clara e explícita na regulação.

Vinícius Suppion, Especialista Técnico-Regulatório, apresentou a visão da atuação institucional e regulatória, ressaltando que 2026 será um ano de trabalho intenso para consolidar as bases do armazenamento no arcabouço legal. Apontou que a Lei nº 15.269/2025, embora inclua o armazenamento, não estruturou plenamente a figura do “Agente Armazenador”, o que limita representação em instâncias como CCEE e ONS e o acesso a benefícios setoriais. Reforçou ainda a prioridade da ABSOLAR em reabrir o debate sobre a dupla tarifação, especialmente à luz da Consulta Pública nº 39, defendendo que a nova lei seja utilizada como fato novo para revisão do entendimento da ANEEL.

Paula Aguilera, da Recurrent Energy, traduziu os entraves regulatórios e tributários em impactos econômicos concretos, evidenciando como eles afetam a viabilidade dos projetos. Demonstrou que a dupla tarifação pode elevar o custo total em mais de 30%, prejudicando a competitividade e onerando o consumidor final. Destacou a relevância do REIDI, que pode reduzir cerca de 35% do CAPEX e ser determinante para o sucesso no leilão, alertando para a urgência de regulamentação pelo MME antes de abril de 2026. Trouxe ainda a complexidade adicional da reforma tributária, com a transição para o IVA dual (IBS/CBS), que exigirá revisões profundas na modelagem financeira e na classificação fiscal dos equipamentos.

Urias Martiniano, da UMN Advogados, apresentou a fundamentação jurídica para contestar a dupla cobrança de encargos, sustentando que a regulação anterior da ANEEL perdeu validade com a promulgação da nova lei. Argumentou que o armazenamento deixou de ser enquadrado como geração, exigindo uma revisão completa das normas infralegais. Com base no princípio da causalidade, defendeu que não há justificativa para encargos duplicados, já que as baterias tendem a beneficiar o sistema, e citou experiências internacionais — como Espanha e Alemanha — onde a isenção é prática comum. Também criticou o modelo de custeio do leilão de reserva de capacidade restrito aos geradores, apontando riscos de desequilíbrio econômico-financeiro e questionamentos constitucionais.

Tatiane Pestana, representante do ONS, reforçou o interesse técnico do ONS na integração do armazenamento à operação do SIN. Apresentou os sandboxes regulatórios já aprovados, com destaque para controle de tensão e resposta da demanda, e indicou a expectativa de incluir baterias nesses ambientes a partir de 2026. Compartilhou ainda a perspectiva de um terceiro sandbox voltado à coordenação transmissão–distribuição (TSO–DSO), no qual baterias e agregadores terão papel central na prestação descentralizada de serviços ancilares. Enfatizou a neutralidade tecnológica do ONS, cujo objetivo é ampliar o “cardápio” de soluções para garantir a segurança operativa e mitigar riscos de eventos críticos no sistema elétrico.

Palco Laranja: Painel 3 - Hidrogênio Verde no Brasil: avanços e gargalos

Eduardo Tobias, Coordenador do GT Hidrogênio, abriu e conduziu o painel com foco na leitura de mercado e na urgência de estruturar a demanda para o hidrogênio renovável no Brasil. Apresentou dados que indicam crescimento expressivo do número de projetos em 2024, destacando que a maior parte tem como destino o mercado interno, contrariando a narrativa predominante de exportação. Trouxe exemplos concretos já em operação ou desenvolvimento, como iniciativas industriais e projetos de P&D, e ressaltou que os incentivos fiscais do PHBC ajudam a reduzir o diferencial de custo frente ao hidrogênio fóssil, mas são insuficientes sem políticas de demanda. Defendeu, assim, mecanismos como contratos por diferença e leilões dedicados para dar previsibilidade e segurança aos investidores.

Prof. Dr. Paulo Sérgio Franco Barbosa, da ABHAV, contribuiu com uma visão acadêmica e estratégica, situando o hidrogênio no contexto da segurança energética e da geopolítica global. Usou o caso europeu pós-guerra na Ucrânia para ilustrar como choques externos aceleram a transição energética e reforçam a importância da diversificação de fontes. Destacou a flexibilidade do hidrogênio como vetor energético, capaz de ser produzido a partir de diferentes insumos, o que permite ao Brasil explorar vocações regionais diversas. Enfatizou ainda o potencial transformador do hidrogênio para a indústria pesada, especialmente na siderurgia, e defendeu a necessidade de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento de longo prazo, à semelhança de trajetórias bem-sucedidas da indústria nacional.

Elisa Figueiredo, da Atlas Agro, apresentou a perspectiva da indústria e do investidor, detalhando os desafios práticos de estruturar um grande projeto de hidrogênio verde voltado à produção de fertilizantes. Descreveu o empreendimento de Uberaba, com foco na substituição de importações e na redução da vulnerabilidade externa do país, e ressaltou a competitividade do fertilizante verde em mercados regionais próximos à planta. Ao mesmo tempo, elencou os principais gargalos que ainda limitam a expansão do setor, como a escassez de capital de risco, incertezas regulatórias, necessidade de contratos de longo prazo, ausência de um sistema claro de certificação e a dependência de incentivos eficazes e de processos de licenciamento mais ágeis.

Débora Yanasse, da Mayer Brown, esclareceu o arcabouço legal que sustenta o desenvolvimento do hidrogênio renovável no Brasil, diferenciando o marco legal que organiza a cadeia produtiva dos instrumentos de incentivo fiscal. Alertou para a importância dos decretos regulamentadores ainda pendentes, que definirão regras essenciais para os leilões de créditos fiscais, critérios de segurança e certificação. Abordou também os impactos das recentes reformas do setor elétrico, especialmente no que se refere à adicionalidade das fontes renováveis e aos descontos tarifários no uso da transmissão, ressaltando que esses pontos serão determinantes para a viabilidade econômica e a tomada de decisão dos investidores.

Palco Laranja: Painel 4 - Energia, Sustentabilidade e Impacto: O Papel do Brasil na Nova Economia Verde

Luciana Goulart, Editora do Broadcast Energia, conduziu o painel conectando as diferentes visões sob o conceito de economia verde como vetor de desenvolvimento econômico com impacto social, e não apenas como agenda ambiental. Ao longo do debate, contextualizou a evolução do setor nas últimas duas décadas e provocou os participantes sobre os principais gargalos financeiros e institucionais que ainda limitam a escala da transição energética, funcionando como elemento integrador entre tecnologia, mercado e política pública.

Octavio Rosa, sócio da Value Bridge, trouxe a perspectiva pragmática do mercado financeiro, ressaltando que o setor elétrico é essencialmente guiado por retorno sobre investimento. Argumentou que tecnologias sustentáveis frequentemente competem em desvantagem com soluções convencionais, que oferecem retorno mais rápido, especialmente em ambientes de leilões que priorizam o menor preço inicial. Destacou que a transição energética tem custos inevitáveis, que acabam sendo compartilhados entre consumidores, empresas e governo, e defendeu que apenas com mecanismos de financiamento incentivado — como juros mais baixos e prazos mais longos — será possível viabilizar investimentos com retorno de longo prazo.

Guilherme, representante da Hydro, apresentou a visão industrial e tecnológica, destacando o papel estratégico do alumínio na cadeia solar e na economia circular. Explicou que, embora a produção primária do alumínio seja intensiva em energia, o material se destaca por sua reciclabilidade quase infinita, com reaproveitamento que demanda apenas uma fração da energia original. Aplicado às usinas solares, o alumínio oferece vantagens como resistência à corrosão, leveza logística e elevado valor residual ao final da vida útil, podendo recuperar parcela significativa do investimento. Inseriu essas características no contexto das metas de descarbonização da Hydro e da reabilitação ambiental de áreas mineradas.

Paulo Rezende, Gerente de Transição Energética da FINEP, abordou o papel do Estado no fomento à inovação e na redução dos riscos tecnológicos que ainda afastam o capital privado. Explicou a diferença entre os instrumentos de crédito, voltados a tecnologias mais maduras, e a subvenção econômica, destinada a soluções ainda em fase de risco. Nesse contexto, anunciou a abertura de uma nova chamada pública de R$ 500 milhões, estruturada em subvenção econômica — ou seja, recursos que não precisam ser devolvidos ao governo — com o objetivo de estimular tecnologias promissoras da transição energética que ainda precisam comprovar seu potencial antes de alcançar escala comercial. Paulo também destacou o desafio do curtailment, apontando o armazenamento de energia e o hidrogênio como vetores estratégicos para absorver a energia desperdiçada e aumentar a eficiência do sistema elétrico.

Júlia Forlani, representante do Instituto Amazônia+21, trouxe a dimensão territorial e social da transição energética, com foco na Amazônia. Destacou o uso de mecanismos de financiamento híbrido (blended finance) como forma de combinar recursos públicos, filantrópicos e privados, reduzindo riscos e viabilizando novos modelos produtivos na região. Exemplificou com projetos voltados à habitação sustentável em madeira engenheirada e à descarbonização da pesca artesanal, substituindo o uso de diesel por sistemas solares com baterias, com impacto direto na renda e na qualidade de vida das comunidades locais.

Palco Laranja: Painel 5 - Armazenamento de Energia: Experiências Internacionais

Nelson Falcão, Vice-Presidente de Cadeia Produtiva, abriu o painel estabelecendo o contexto regulatório e internacional do armazenamento de energia, destacando lições que podem orientar o avanço do setor no Brasil. Apontou que mercados como Alemanha, Espanha e Chile adotam isenção de tarifas de uso da rede para sistemas de armazenamento, tanto na carga quanto na descarga, criando sinais claros de incentivo ao investimento. Explicou o funcionamento dos leilões de reserva de capacidade como mecanismo para garantir potência disponível em pontos críticos do sistema e reforçou que, em países como Estados Unidos e Itália, o armazenamento já é uma tecnologia madura, com metas ambiciosas de expansão e ampla adoção.

Samir Moura, representante da Canadian Solar, apresentou a visão da indústria e da tecnologia, ressaltando que o rápido crescimento da energia solar torna a flexibilidade um requisito central para a operação do sistema elétrico. Explicou desafios como a “curva do pato” e o curtailment, que limitam o aproveitamento da geração renovável, e posicionou as baterias como solução para tornar a fonte solar despachável, deslocando energia do período diurno para os horários de maior demanda. Trouxe exemplos internacionais, como Califórnia e Chile, e detalhou o portfólio da Canadian Solar para os segmentos residencial, comercial e de grande escala, destacando a solidez financeira da empresa como fator de confiança para investidores.

Luiza Bertazzoli, representante da Greener, contribuiu com uma leitura baseada em dados e tendências globais, mostrando a rápida queda de preços das baterias em 2024, impulsionada principalmente pela escala da indústria de veículos elétricos. Apontou a liderança da China, dos Estados Unidos e da Europa, explicando como diferentes modelos de política pública e sinais de mercado impulsionam o crescimento em cada região. Apresentou projeções de forte expansão da capacidade instalada até 2035, com evolução tecnológica para sistemas de maior duração, e contextualizou o Brasil e a América Latina como mercados ainda em estágio inicial, com o Chile à frente e o Brasil avançando de forma mais gradual.

Vanessa Torres, representante da Elecnor Brasil, trouxe a perspectiva prática da engenharia, construção e implantação de projetos de armazenamento, compartilhando aprendizados de experiências internacionais. Relatou desafios específicos enfrentados em projetos híbridos no Chile, onde a complexidade está menos na obra civil e mais na conexão à rede e na logística de mão de obra em regiões remotas. Apresentou o caso da República Dominicana, onde baterias são utilizadas para garantir estabilidade em áreas turísticas, e o projeto australiano de Blyth, que utiliza tecnologia grid forming para fornecer energia renovável de forma contínua, substituindo fontes fósseis em aplicações industriais.

Santiago González Gil, da Amara Net Zero, encerrou o painel com um alerta sobre segurança e qualidade técnica, enfatizando que o armazenamento exige padrões rigorosos de engenharia e operação. Chamou atenção para os riscos da entrada de agentes despreparados no mercado, destacando que falhas de projeto ou equipamentos inadequados podem resultar em incêndios graves. Abordou ainda os desafios logísticos do transporte de baterias de lítio, classificadas como carga perigosa, e a importância de considerar a degradação real dos sistemas na modelagem financeira. Com base em experiências no México e na Espanha, reforçou que, apesar das diferenças regulatórias, os desafios técnicos e operacionais do armazenamento são globais.

Encerramento

O último painel apresentou a visão institucional do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre o papel do armazenamento no planejamento e na operação do sistema elétrico brasileiro. Isabela Vieira, Diretora de Programa do MME, destacou que a Consulta Pública do Leilão de Reserva de Capacidade para Armazenamento (LRCAP) é um marco para a construção de know-how operacional no país e confirmou que o leilão está previsto para 2026. Ela explicou que contratos com prazo de 10 anos permitem capturar melhor a rápida evolução tecnológica das baterias, ainda que o mercado manifeste preferência por contratos de 15 anos, e abordou a possibilidade de inclusão do armazenamento no REIDI, tema que ainda depende de articulação entre o MME e o Ministério da Fazenda para sua viabilização.

Marcos Farinha, superintendente adjunto da EPE, trouxe a perspectiva do planejamento energético e dos estudos técnicos, ressaltando o esforço da EPE em estruturar o conceito de grid forming no contexto brasileiro, um tema ainda em consolidação internacional. Destacou a importância do correto dimensionamento das margens de carga e descarga das baterias, considerando que a expansão da transmissão ocorre em prazos mais longos (6 a 7 anos) do que a implantação dos sistemas de armazenamento. Marcos explicou que é fundamental garantir capacidade disponível tanto para o carregamento em momentos de excedente renovável quanto para a descarga nos períodos de maior estresse do sistema, especialmente no final do dia. Além disso, ressaltou que, embora o LRCAP seja desenhado para atender à demanda de potência, o armazenamento contribui indiretamente para a redução do curtailment e dos custos sistêmicos, e informou que EPE e ONS avaliam cenários intermediários no leilão, buscando refletir de forma mais realista a necessidade de serviços ancilares e o suporte à operação do sistema elétrico.