Dinamizar o setor fotovoltaico é uma tarefa que envolve toda a cadeia de valor solar, por meio de grandes profissionais que trabalham com foco, propósito e dedicação. E por que não unir esses profissionais em um grande encontro para ajudá-los a gerar negócios e renovar o conhecimento na área? A segunda edição do Encontro Nacional ABSOLAR cumpriu essa missão com alto nível nos dias 7 e 8 de dezembro, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. Foram 15 sessões de conteúdo que trouxeram mais de 70 palestrantes, além da novidade do evento que foram as rodadas de negócio, que ajudaram os participantes a impulsionar o networking no setor. Confira abaixo o resumo do que aconteceu nestes dois dias e prepare-se porque ano que vem tem muito mais!
Ronaldo Koloszuk, Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, deu início ao evento dando boas-vindas aos presentes e informando que não tem como conter o crescimento da energia solar fotovoltaica (FV), que está cada vez mais presente na matriz elétrica do País. Logo após a fala de Koloszuk, houve a participação do Ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que destacou que não há transição energética sem mineração, que leva empregos e renda para regiões carentes. Em sua fala, o ministro afirmou que o Canadá é um exemplo neste tema e em preservação ambiental.
Sachsida também informou que o Brasil viveu os piores anos em termos de crise entre 2015 e 2020 – momentos que tornam a energia essencial.
“Sempre defendi energia limpa e barata para o povo brasileiro e nunca apoiei nenhum projeto que aumentasse os custos para os consumidores. Energia é a chave para um desenvolvimento econômico forte e aumentar seu custo é restringir as possibilidades de crescimento”, disse. “Atualmente, o Brasil tem 85% de energia limpa e já é hoje o que a Alemanha deseja ser daqui a 15 ou 20 anos. O País é exemplo para o mundo”.
O ministro destacou que, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia (MME), recebeu dezenas de associações para debater como gerar mais energia a menores preços no Brasil, com melhor legislação e com mais investimento privado. “Com a crise de energia e a crise da guerra na Ucrânia, o Brasil é um porto seguro para os investimentos em energia e em mineração. É o momento de corrigirmos os problemas. Todos os bancos investirão em energia, porém, os CEOs de qualquer empresa sabem mais os nomes dos advogados do que dos engenheiros”, apontou. “Não dá para estarmos em um setor onde tudo vai parar na justiça. O mundo é o que é. O mundo mudou. A geração distribuída veio para ficar”.
Em sua fala, Sachsida ainda destacou a importância de criar parcerias. “Vamos nos abraçar. Isso é o que todo mundo quer. Esse é o convite que eu deixo para vocês. Não deixem o setor elétrico morrer. Não deixem o setor elétrico acabar”, disse. “Vamos reconhecer as novas tecnologias e vamos aprimorar os marcos legais, com mais energia para todos em benefício ao consumidor”. O ministro afirmou ainda que o consumidor em primeiro lugar é mais emprego, renda e bem-estar para toda a sociedade.
Em seguida, ocorreu a participação de Iasmym Jorge, Gerente Geral do Meu Financiamento Solar (MFS), empresa anfitriã do Encontro Nacional ABSOLAR 2022. Ela agradeceu a ABSOLAR por todos os eventos realizados ao longo de todo o ano pelo Brasil e informou que o MFS vai continuar forte em 2023 com serviço ágil, todo digital e, ao mesmo tempo, com atendimento humanizado.
Bárbara Rubim, Vice-Presidente de Geração Distribuída da ABSOLAR, lembrou que, há um ano, o setor estava discutindo e celebrando o acordo firmado do Projeto de Lei (PL) 5829/2019. Rubim também destacou que a energia solar já reduziu até 48% dos custos que os consumidores poderiam ter por conta da crise hídrica e ainda vai reduzir em mais de 5% as contas de energia de todos os brasileiros. Apesar de tudo, o setor ainda encontro dificuldades no caminho. “A solar incomoda não só porque descentraliza a geração. Ela também descentraliza o poder. A solar chama a todos os consumidores a entender e a criticar o setor elétrico brasileiro, que, apesar de receber tantas tecnologias e inovações, tem dificuldade de adotar as mudanças”, disse.
A Vice-Presidente de Geração Distribuída da ABSOLAR apontou que acompanha o setor há 10 anos e ainda não viu discussões sobre como melhorá-lo. A Lei nº 14.300/ 2022 foi fruto da participação ativa do MME, que mediou o debate que permitiu esse grande acordo para instituir o marco legal da geração própria de energia. “Mas nesta terça-feira, 6 de dezembro, tivemos que estar no Congresso Nacional, para discutirmos novamente os prazos da lei. Infelizmente, por desinteresse do órgão regulador em cumprir os prazos da Lei 14.300/2022”, afirmou. Rubim também destacou que a ABSOLAR esteve na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27) e, portanto, continua reforçando os compromissos do Brasil com energia limpa, barata e renovável para todos.
Rodrigo Sauaia, Presidente Executivo da ABSOLAR, começou informando os recordes recentes da energia solar: 22 GW de capacidade instalada da geração solar FV e a marca de 2 GW de geração distribuída (GD) no estado de São Paulo. “Com isso, já somos a 3ª maior fonte de geração do Brasil e podemos, em breve, ser a segunda maior, ultrapassando a eólica”, disse. “Até o final do ano, provavelmente chegaremos aos 23 GW de solar. Se 2022 foi bom, 2023 será ainda melhor”.
Sauaia afirmou o compromisso de trazer sempre nas edições do Encontro Nacional as projeções dos anos seguintes e destacou alguns dos fatores que devem ser considerados nestas projeções, como cambio, tarifas de energia elétrica, transição dos governos federal e estadual e legislação. Sendo assim, em uma projeção conservadora para o próximo ano, a energia solar fotovoltaica adicionará 10,1 GW, sendo 5,5 em GD e 4,6 em geração centralizada (GC). Ao final do ano, serão mais de 34 GW. “Isso são quase 2,5 Itaipus”, afirmou. “Ao final de 2023 acumularemos mais de 1 milhão de empregos e R$ 170 bilhões em investimentos”.
O Presidente Executivo da ABSOLAR ainda agradeceu aos poderes executivos e legislativos do estado de São Paulo por cumprirem a promessa de implementação das mesmas regras tributárias da solar FV que são aplicadas em Minas Gerais, que hoje é o estado líder em geração própria de energia solar no Brasil. Por fim, Sauaia destacou que os desafios a serem enfrentados são o acesso das conexões à rede, formação de profissionais e questões tributárias, além da necessidade de acelerar a transição com mais profissionais e inclusão de gênero, disponibilidade de fornecedores e desafios para a engenharia nacional que vai competir no cenário mundial.
Carlos Eduardo Pignatari, Governador de São Paulo em exercício, destacou que há 10 anos, se falássemos em energia solar, por exemplo, nas granjas, todos ficariam assustados. Hoje é a solar é uma realidade. As construções dos galpões já se iniciam pelo projeto de energia solar. Pignatari também celebrou o crescimento da energia solar e de todo o progresso e geração de empregos que o acompanham. “O setor privado investiu muito na fonte solar, mas que é preciso ter investimentos também de toda a sociedade. Vamos gerar emprego!”, finalizou.
Nesta palestra, o economista Alexandre Schwartsman destacou que o mundo todo tem enfrentado o aumento da inflação neste pós-pandemia. Houve, no entanto, um movimento sincrônico no sentido de dar um estímulo grande à economia por meio de investimentos e aumento dos gastos públicos. “Podemos ver uma aceleração considerável da inflação e uma projeção de permanência deste cenário”, disse. “É provável que vejamos um aumento de juros em todo o mundo, conforme projeções do Fed, podendo chegar em até 5% em 10 anos”.
Segundo Schwartsman, por conta da Guerra na Ucrânia, projeta-se uma redução de 25% do consumo de gás natural na União Europeia (UE) em 2023, o que pode ser uma boa notícia para as renováveis.
“A Europa é um importador líquido de commodities e observou um forte impacto na sua balança comercial em função do aumento dos preços. Observou-se também um aumento na taxa de juros, porém um pouco mais desacelerado que nos Estados Unidos (EUA)”, apontou.
Nos EUA, mesmo sendo retirados energia e alimentos, observa-se que os demais núcleos da inflação permanecem persistentes. “O mercado de trabalho dos EUA apresenta 1,8 vaga disponível para cada desempregado hoje. Há oferta de empregos, mas como isso se resolve? Com aumentos de preços. Salários estão crescendo acima da produtividade, o que resulta em inflação”, disse. “No entanto, talvez muitos não tenham voltado a procurar empregos. Seria preciso reduzir a oferta de empregos para desacelerar a inflação”.
De acordo com o palestrante, a inflação dos EUA passou a superar as metas. “Espera-se um retorno aos padrões históricos, mas tem sido difícil trazer os índices para as metas”. Schwartsman informou que, além das questões de mercado de empregos, há também uma perda de referência das metas o que leva a aumentos sucessivos de preços. “Moral da história: estamos em pleno ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos. As expectativas são de juros na casa de 5% ao ano. Eu, particularmente, acredito que esses valores podem ser ainda mais altos”, apontou.
Segundo o economista, o euro também passou por uma grande aceleração da inflação, entretanto, a aceleração dos núcleos não foi tão acentuada como nos EUA. “Isso reflete outras dificuldades das economias europeias, especialmente, causadas pelas escaladas de preço de energia, como gás, e outras commodities”, disse. “A Europa é um importador líquido de todos os tipos de commodities (alimentos, energia, minérios) e tornou-se deficitária em seu balanço comercial. Ao mesmo tempo em que houve grande escalada de preços de commodities, o continente europeu perdeu volume em suas exportações”.
Diferente dos Estados Unidos, na Europa, o consumo perde força na esteira da perda de renda, causada pelo aumento dos custos de vida – notadamente, energia e alimentos. O Banco Central Europeu também tem aumentado suas taxas de juros, contudo, os aumentos são mais lentos e em menor grau, se comparados aos EUA. “Isso faz o dólar se valorizar frente ao euro. A confiança dos investidores na Europa é menor e não se descarta a hipótese de uma recessão na Europa”, destacou.
Schwartsman também comentou sobre a situação da China. Segundo ele, o país asiático é de difícil entendimento para os economistas ocidentais, mas há algumas características que podem ser notadas: uma economia muito aquecida nos últimos anos que pode desaquecer e passar a crescer em ritmo mais modesto; questões ligadas às tensões políticas no partido comunista; política de combate à Covid-19 adotada pela China; e desaceleração das importações chinesas (o que pode afetar o Brasil).
Já no Brasil, também enfrentamos dificuldades. “A inflação de serviços voltou a patamares de dois dígitos – e isso não tem ligação nenhuma com problemas internacionais. O que notamos são expectativas de inflação acima do centro da meta. A inflação esperada para 2023 voltou a subir e, para 2024, também há expectativas de alta, mas neste caso, ligadas ao gasto público”, informou.
O economista destacou que temos cerca de 2/3 dos itens que compõem o IPCA passando por elevação. “A resposta do nosso Bacen foi trazer a Selic de 2% em 2020 para 13,75% em 2022. Historicamente, é o aperto mais rápido deste o início do regime de metas”. Quanto à taxa real de juros no Brasil, o País saiu de 2% (negativos), em 2020, para 8% (positivos), em 2022. “Isso não ocorria desde 2015. Os juros neutros no Brasil seriam entre 3% e 4% ao ano, teoricamente”, disse. O Bacen espera reduzir a inflação ao longo dos próximos trimestres, mas, deve-se ter em mente a defasagem entre a elevação de juros e a reação da inflação observada. A inflação deve cair, mas deve ficar acima da meta em 2023 e, com alguma esperança, voltar à meta em 2024.
A respeito do PIB, a economia apresentou recuperação pós-covid. O crescimento tem sido notado na expansão da demanda interna. “Entre outros componentes, isso ocorreu pelos auxílios e transferências de renda”, informou. De acordo com o palestrante, o crescimento da produção de bens e de vendas no varejo perdeu fôlego e o que tem crescido nos últimos meses foi o setor de serviços. Em parte, pela retirada das restrições de circulação de pessoas durante a pandemia. Isso levou a uma revisão de crescimento para a economia em 2022, mas, já para 2023, as taxas de crescimento previstas são modestas.
O economista também destacou a questão de empregos no País. Segundo ele, parecemos retomar o ritmo de criação de empregos de antes da pandemia. Não são esperados saldos, mas um retorno à uma tendência que houve de 2016 a 2020, muito devido à recuperação do setor de serviços. A construção cível, embora em menor medida, também mostrou recuperação. “A renda do trabalho sofre forte queda e está voltando aos níveis pré-pandemia, informou. “A taxa de desemprego, se somarmos as pessoas que saíram do mercado de trabalho e que não voltaram a procurar vagas na pandemia com as que estão procurando emprego, a taxa teria chegado a 22%. Hoje, estamos com cerca de 8,5% de taxa de desemprego”, destacou. De acordo com Schwartsman. o que temos hoje é fenômeno gradual de recuperação dos salários.
Já a redução da dívida pública é explicada pelo aumento da inflação. Ou seja, mais inflação, maior arrecadação nominal e, portanto, redução de endividamento – e também a herança do curto período de juros mais baixos. “Se o governo se vale da inflação para reduzir a dívida pública, isso é problemático. Melhor seria reduzir via superávit fiscal”, apontou. “O Bacen pisou no freio monetário. Por outro lado, o governo eleito sugere pisar no acelerador fiscal. Não acho, contudo, que o Bacen deva aumentar a Selic nas próximas reuniões. Deve, porém, fazer algum alerta sobre 2023 e 2024”.
Camila Ramos, Vice-Presidente de Financiamento da ABSOLAR, deu início ao painel apresentando um breve resumo de sua trajetória na ABSOLAR e da contribuição da associação para o sucesso da energia solar fotovoltaica no Brasil. Ramos também destacou as perspectivas na política e no setor elétrico brasileiro, apontando que 2023 será um ano de grandes mudanças no País e no setor solar fotovoltaico. Os pontos destacados para essa mudança são a retomada da economia pós-Covid, novos governos federal e estaduais, transição energética e marco legal da geração própria de energia e seus impactos nos projetos de geração.
Outros pontos destacados são os leilões, novas tecnologias (como o Hidrogênio Verde), abertura do Mercado Livre, fim do desconto das tarifas de uso da rede e elevação das tarifas de energia elétrica no Brasil. Camila Ramos também citou a preocupação com segurança energética, em especial, as consequências da guerra na Ucrânia para o setor de energias renováveis. Welber Barral, Conselheiro e Sócio Fundador da BMJ Consultores Associados, falou sobre o cenário político internacional, que está sob tensões geopolíticas, além do preço internacional do petróleo e as mudanças na alocação mundial de investimentos.
Já no cenário nacional, destacam-se a PEC da Transição, a reforma ministerial e a proposta de recriação do Ministério da Indústria e Comércio com criação da uma secretaria voltada às energias renováveis. Barral informou ainda que o Ministério de Minas e Energia (MME) tem consenso para a abertura de mercado, no entanto, com menos espaço para reformas estruturantes. Segundo o palestrante, a globalização está em mudança com o offshore sendo substituído por reshoring, que, por sua vez, está sendo substituído por friend-shoring e, finalmente, por power-shoring.
Barral enxerga o power-shoring como uma grande oportunidade para o Brasil, que poderia chegar a 10% da geração mundial de empregos em energias renováveis, como é o exemplo do Hidrogênio Verde. O que pode nos atrapalhar, no entanto, segundo ele, é a instabilidade regulatória, a precificação dos riscos para investimentos de 20 a 30 anos, as questões tributárias e a infraestrutura – como aconteceu na Austrália, onde as questões técnicas da rede elétrica impediram maiores investimentos. Outros pontos para atenção são a logística – especificamente, no caso de Hidrogênio Verde –, a capacitação, em todos os níveis profissionais, e o desafio de demonstrar aos legisladores todo o potencial dessas transformações, incluindo acordos internacionais de reconhecimentos de acordos técnicos e legais entre países.
James Ellis, Chefe de Pesquisa para a América Latina da BloombergNEF, começou sua fala no painel destacando que a transição energética e suas tecnologias associadas avançam e, pode-se dizer, que são inevitáveis. Contudo, há muitos desafios. “Nem sempre o ambiente tem sido favorável aos investimentos. Exemplo: instabilidade geopolítica, pandemia da Covid-19 e crises econômicas”, apontou.
Ainda assim, segundo Ellis, o investimento mundial em transição energética alcançou US$ 800 bilhões, em 2021 – ano em que o investimento em energias renováveis se recuperou na América Latina. No Brasil, foram cerca de US$ 6 bilhões em 2021, especialmente em solar FV. “O País responde sozinho por mais da metade de todo o investimento na América Latina”, destacou. Tanto a solar como a eólica tornaram-se as fontes de energia mais baratas em todo o continente.
“A BloombergNEF prevê mais de 300 GW de investimentos mundiais em energia solar fotovoltaica em 2023. As fábricas terão capacidade de produção de equipamentos para 500 GW, ou seja, acima da demanda de 300 GW por investimentos. Isso deve levar a uma queda de preços”, disse. “Os preços do aço têm caído, mas o de outros insumos ainda está alto. Na Europa, os investimentos em solar aumentaram em consequência dos aumentos de custo de energia e faltam profissionais para instalação”.
De acordo com Ellis, a queda de preços de módulos solares e de baterias acontece, justamente, por conta da China, que domina amplamente a produção mundial. “A cada vez que se dobra a capacidade de produção, os preços caem 18%”, informou. “Já o Brasil depende largamente da importação de equipamentos vindos da China”. Por fim, a previsão da BloombergNEF é de que 40% do crescimento de solar e eólica na América Latina em 2023 venha do Brasil, sendo que capacidade instalada na região chegará a 100 GW. As gerações de ambas as fontes combinadas já representam mais de 10% da matriz elétrica de cada um dos países da América Latina.
Rodolfo Meyer, CEO do Portal Solar, falou sobre as mudanças e oportunidades trazidas pela eletrificação das frotas. Segundo ele, há a dominância da energia solar e eólica na transição energética. Já a China, tem mais de 300 GW de energia solar fotovoltaica e, por isso, está ditando a transição energética mundial não apenas em solar e eólica, mas também nos carros elétricos. “A entrada da China no mercado mundial de solar FV é proporcional ao grande ganho de queda de preços de equipamentos”, disse.
Meyer destacou que um dos maiores drivers de crescimento da energia solar é o aumento das tarifas de energia. Com relação às projeções de crescimento da fonte no Brasil, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) não está contabilizando a eletrificação da frota – o que leva a crer que a expansão da solar FV será ainda maior do que o estimado pela EPE. Sobre veículos elétricos, segundo o palestrante, eles já representam 8% da venda mundial de automóveis em 2021. “Cerca de 100 mil veículos elétricos já circulam no Brasil. A venda mundial já é de 4 milhões ao ano e mais de 20 milhões de pontos de carregamento precisam ser instalados todos os anos até 2030”, disse. “Somente no Brasil, há demanda de 500 GW de energia solar fotovoltaica para a transição da frota”.
David Crisóstomo, S&P Global Commodity Insights da IHS Market, informou que o segmento de energias renováveis investiu US$ 385 bilhões apenas em 2021 – um total de 1.5 trilhão de investimento total em energia no mundo. Ásia Pacífico e América do Norte lideram os investimentos. “Solar e eólica vão liderar a expansão de geração elétrica e este movimento será potencializado pelo crescimento das capacidades de armazenamento”, disse. “Em termos mundiais, cerca de 50% do investimento em energias renováveis no mundo, será destinado à energia solar fotovoltaica”.
Crisóstomo destacou que a solar está se tornando a fonte de geração elétrica de preço mais competitivo em todo o mundo e deve confirmar essa liderança em 2030 e o grande desafio deste forte crescimento está ligado à cadeia de suprimentos. A geração distribuída seguirá liderando o crescimento da solar FV na América Latina, com o Brasil liderando. O País responde por quase 50% do aumento da capacidade instalada. Enquanto isso, segundo o palestrante, as companhias são pressionadas para adotar energia limpa em seus produtos e serviços e inovações regulatórias são pensadas para permitir que pequenos consumidores cada vez mais produzam sua própria energia.
O Brasil possui um território de dimensões continentais, por isso, garantir os insumos necessários para o desenvolvimento do setor solar FV é um grande desafio. Daniel Pansarella, Presidente do Conselho Fiscal da ABSOLAR, informou que o Brasil já é o terceiro maior mercado de exportação de equipamentos provenientes da China, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos, o que traz um bom olhar dos investidores.
Marcel Coelho, da OSDA, informou que é necessário que o módulo solar tenha o selo do Inmetro e Procel como garantia de qualidade. Em sua fala, Coelho apresentou exemplos de práticas de mercado e problemas em processos construtivos de módulos. A OSDA está presente no Brasil desde 2017 e já distribuiu mais de 1,6 GW.
Gustavo Lara, da Hexis Científica, destacou que o foco da empresa é o monitoramento das fazendas solares e apresenta soluções para mitigar e controlar efeitos da sujevidade dos módulos, podendo gerenciar a limpeza das plantas. O sistema é baseado em SCADA e é totalmente automatizado. A empresa também tem soluções para medição da radiação e otimizar o posicionamento dos trackers.
Gustavo Silva, da JA Solar, apontou que a empresa é líder em marketshare na Europa, Ásia e Estados Unidos. Silva também destacou a fala de Marcel Coelho sobre a garantia de segurança dos módulos solares, complementando que o controle de qualidade do Inmetro é muito simples e a barreira de entrada é pequena. “Tem uma série de vídeos no YouTube explicando a diferença de qualidade e a importância de cada uma das certificações”, disse.
Luis Roberto Valer Morales, da Huawei, começou sua fala dizendo que mais de metade dos seus funcionários trabalham em pesquisa e desenvolvimento. A Huawei é uma empresa chinesa e está há 24 anos no Brasil, onde começaram no mercado de telecomunicações. Morales também destacou a geração de energia solar em residências no Brasil, que, segundo ele, é o segmento mais representativo no mercado FV no País. Por isso, é necessária uma maior preocupação com a qualidade dos equipamentos. Sobre o armazenamento de energia, o palestrante destacou que não é só para sistemas offgrid, pois existem grandes possibilidades para esta tecnologia. Para ele, a modularidade dos sistemas é importante para o setor de utility, apesar dos inversores centrais serem bastante usados no Brasil, e exitem muitas oportunidades para novas aplicações, por meio da associação da solar fotovoltaica à outros equipamentos.
João Amadeus, da Martorelli Advogados, falou sobre o convênio ICMS 16 de 2015, que traz o incentivo de isenção até 1 MW. Segundo Amadeus, o incentivo fica condicionado à isenção do PIS e Cofins. O palestrante expôs ainda a dinâmica da criação de incentivos ficais no Confaz e a convalidação de incentivos existentes em cada estado. Em sua fala, o advogado também abordou os detalhes da situação de Minas Gerais, que é o mais avançado no âmbito fiscal e, consequentemente, líder em geração distribuída. “As regras implementadas no estado podem ser copiadas por outros da região Sudeste”. De acordo com o palestrante, o convênio ICMS atual está indexado à REN 482 da Aneel, mas não aborda as suas atualizações. Por fim, destacou que, para o futuro, acredita-se que a autoprodução de energia poderá não estar apta a ser tributada, visto que não há troca comercial da titularidade do produto.
“Não é segredo para ninguém que, apesar de tudo o que já foi feito, estamos apenas engatinhando na energia solar”, disse Ronaldo Koloszuk, Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, logo no início do painel. “O setor solar FV vai bem, tem perspectivas e tem enormes desafios. Sabemos que muitos são absolutamente contra a fonte solar, e isso é até compreensível, pois a solar é algo disruptivo”.
Koloszuk lembrou que, em 2015 e 2016, ouviu muitas vezes que a energia solar era uma moda. Hoje, vemos que ela deslanchou. “Atualmente, somos a terceira maior fonte de energia do Brasil e vamos crescer muito mais! Se fala muito em Hidrogênio Verde e no Brasil como um exportador de energia. Estamos falando de bilhões ou de trilhões que a solar fotovoltaica representa”, destacou.
Pedro Fiuza, CEO da Mercury Renew, informou que empresa está há 25 anos no setor elétrico e falou um pouco sobre seu histórico no mercado. “Na Servitec, fizemos de tudo um pouco. Termoelétricas, PCHs e eólicas até que tive o contato com a solar FV e recomecei tudo. Fundamos a GD Sun e, em plena pandemia de Covid-19, fundamos a Mercury para atuarmos também em geração centralizada”, disse.
Mas por que solar? De acordo com Fiuza, pela previsibilidade da energia, pela abertura do mercado, pela demanda mundial da entrada das empresas no ESG e, inquestionavelmente, pela viabilidade econômica. “Hoje, a Mercury tornou-se a Comerc e temos a Vibra Energia como proprietária de 50% da Comerc, o que demonstra a migração das grandes empresas de energia (de óleo e gás) para o setor de energia renováveis”, disse.
Ronaldo Koloszuk apontou que é possível perceber no depoimento de Pedro a transformação das grandes empresas de energia que incorporam energias renováveis. “Como exemplo disso, temos a Shell, a Cosan, a Petrobrás, a Comgás e tantas outras”, disse. Juliano Ohta, CEO da Aldo Solar, destacou que antes estava inserido dentro das casas no setor de construção e hoje está no “telhado das casas”.
“Vim para a Aldo Solar, onde estou há 7 meses, e gostaria de compartilhar as experiências que tive até aqui. Vejo a GD como mais do que um setor que promove a preservação ambiental, mas, principalmente como um setor que promove a inclusão social”, informou. “No Brasil, a expansão da geração própria de energia solar se dá muito mais pelas questões econômicas do que pelas questões ambientais”.
Para Ohta, a energia elétrica tem aumentado de preços em um ritmo muito acima da inflação e isso é muito mais pesado para quem tem renda menor. “A GD traz independência para essas pessoas que, hoje, chegam a gastar 10% ou mais de sua renda com tarifas de energia”, disse. “No Brasil temos 10 milhões de residências, pelo menos, que têm condições de instalar um sistema de geração própria”.
Em sua fala, Ohta ainda destacou o desenvolvimento da cadeia de valor. De acordo com ele, há muita concorrência e muitos entrantes, o que traz desafios e oportunidades ao setor. Existem também outros gargalos, como a falta de qualificação de mão de obra e alguns riscos do negócio que são ignorados por novos entrantes. “Hoje temos mais de 150 marcas de módulos sendo vendidas no Brasil. Módulo não é commodity. Precisamos ter cuidado nas escolhas. Todos os esforços devem ser voltados ao integrador”, apontou.
Nelson Colaferro, Diretor Presidente da Blue Sol, lembrou sua trajetória no setor. “Em 2009, eu e meus filhos iniciamos no segmento de solar. Trilhamos este caminho, inicialmente com off-grid, que era o mercado possível na época. Já em 2012 decidimos concentrar nossas atividades na GD com foco no ponto final de consumo”, informou. “Ao longo do tempo, já treinamos mais de 18 mil pessoas e fazemos todo o processo desde o lead até a troca do medidor”.
Colaferro destacou que, desde 2010, a geração própria de energia solar trouxe oportunidades de emprego e renda num período em que o Brasil cresceu muito pouco. “Solar é uma decisão sustentável e decisão econômica. Porém, nada se compara ao empoderamento do consumidor quando é ele quem conclui a troca do medidor”, disse. O palestrante acredita que essa fase inicial de “colonização” do mercado já foi concluída. “Já são mais de 1.5 milhão de unidades consumidoras. Agora caminhamos para outro momento. Passamos para uma fase de sofisticação maior com novos riscos e oportunidades. Há novos setores tão grandes e tão poderosos que se conectarão ao setor solar que é difícil quantificar toda expansão e todas as transformações que virão”, finalizou.
Harry Schmelzer Neto, Gerente de Vendas de Energia Solar da WEG, informou que a energia solar surgiu na empresa em 2012. Na época, quando o payback era de 23 anos, não havia muitos interessados dentro da empresa. “Pelo contrário, eu me interessei pelo segmento e hoje somos cerca de 20% das receitas da WEG. Temos todo o portfólio de produtos para sistemas de GD e EPC (engeneering, procurement and construction)”, informou.
Na visão de Harry, a tecnologia já se provou. “Não esperamos mais um boom na solar”, informou. O palestrante, no entanto, acredita que, hoje, os inovadores e visionários estão nos carregadores de carros elétricos e nas baterias. “O maior mercado está em pagar a bateria contra o custo da rede. É neste ponto que vemos o grande mercado de baterias”, disse. Harry ainda fez uma previsão para o setor: “a grande aposta do mundo em solar é a geração distribuída. Claro que a GC será grande, mas, o carro-chefe é a GD. Antes, o carro-chefe era a geração centralizada com os leilões, mas, de 2019 em diante, a geração distribuída disparou. É o consumidor gerando sua própria energia, o maior vetor de expansão”. O palestrante acredita também que, em pouco tempo, a energia solar será a 2ª maior fonte da matriz elétrica brasileira.
Harry ainda destacou alguns pontos de atenção quanto à eficiência de inversores. Aqui no Brasil, foca-se muito em sua eficiência máxima, mas o que importa mesmo é a eficiência média frente às altas temperaturas (40° C ou mais). Já sobre segurança, o gerente da WEG apontou que há integradores mal qualificados no Brasil, mas também é essencial ter a segurança no equipamento.
Fernando Orsini, Presidente da Unidade de Negócios de Energia, Óleo&Gás da Andrade Gutierrez, comentou sobre a trajetória da empresa no setor de energia, desde hidrelétricas e termelétricas até a entrada da eólica e da solar FV no portfólio de construções. “Esta trajetória confirma que as renováveis chegaram para ficar. Inclusive, a empresa já avalia projetos para Hidrogênio Verde”, disse.
O foco da Andrade Gutierrez tem sido na engenharia como proposta de valor, combinando diversas especialidades. “Percorremos toda uma trajetória, desde o entendimento até a imersão na construção de usinas solares, e hoje temos já mais de 2 GW de instalações entregues. São mais de 3,8 milhões de módulos instalados e 7,1 mil profissionais empregados. Os grandes números dão a dimensão do que são complexidade e os desafios dessas obras”, informou.
Um ano após este tema ter sido regulamentado, os palestrantes falaram sobre as principais evoluções alcançadas e as expectativas sob a ótica da operação do sistema, do planejamento setorial e dos agentes de mercado. Ricardo Barros, Vice-Presidente de Geração Centralizada da ABSOLAR, destacou o aniversário de um ano da publicação da resolução sobre usinas híbridas, tema no qual a ABSOLAR foi bastante ativa no processo.
Thaís Melega, Consultora de Novos Negócios da Atiaia Renováveis, informou que a empresa nasceu em 2014, com foco em PCHs. Atualmente, têm dois parques solares em desenvolvimento. E ainda tem 1,6 GW de pipeline de projetos para desenvolver. Melega também falou sobre dois grupos existentes: usinas associadas e usinas hibridas. Enquanto as associadas têm pontos de conexão distintos, as híbridas podem ou não ter pontos de conexão distintos.
A palestrante informou ainda que a complementariedade das fontes otimiza o uso das redes de transmissão e os custos de demanda. “Cada fonte tem um tempo para o desenvolvimento do projeto e a contratação de demanda pode ser feita de forma escalonada, podendo alterar o MUST uma vez por ano”, apontou. Por fim, Melega destacou pontos que precisam de atenção: a regulamentação das usinas híbridas para leilão ainda não foi feita e a hibridização com baterias ainda precisa ser aprimorada na regulação. Essa hibridização deve favorecer a produção de Hidrogênio Verde no Brasil.
Carolyne Dias, Gerente de Regulação da Voltalia Energia do Brasil, destacou que a empresa atua com eólica, solar, biomassa e hidráulica e possui um sistema híbrido isolado no Oiapoque com 7 MW de capacidade instalada com PCH e diesel. Atualmente, está implementando outro projeto de 5 MW com PCH, termoelétrica e solar. “O andamento de sistemas híbridos isolados é muito mais simples do que os conectados à rede”, informou. “Uma análise de risco e retorno das fontes individualmente indica muitos riscos. A criação de um portfólio de contratos servia para mitigá-los na variabilidade de cada fonte”. Para Carolyne, ainda há uma inércia nas instituições, pois projetos híbridos são uma inovação e existem muitas regulações anteriores que não estão alinhadas com as novidades trazidas.
Roberto Castro, Consultor de Energia da MRTS, contou um pouco sobre a história da consulta pública que deu origem à regulamentação e contribuições feitas pelo setor para melhorar a proposta inicial. “A regulação de usinas híbridas é um tema que está sendo debatido em todo o mundo”, destacou. Castro dissertou também sobre as experiências que desenvolveu em projetos de P&D com a fonte solar e hidráulicas associadas, explicando detalhadamente as questões técnicas e operacionais. “É preciso criar modelos que otimizem a operação das usinas para que não haja desperdício de energia ou potência”, finalizou.
José Guilherme de Lara Resende, Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, falou sobre margem de escoamento, que, atualmente, está em Consulta Pública (CP). “A corrida por outorgas gerou cenário por agentes buscando acesso ao sistema de transmissão. Grande competição e recurso escasso”, disse. A Secretaria de Planejamento Energético (SPE) está elaborando mecanismo para atender o setor. Em 3 de novembro, houve CP para diretrizes. Para sistemática, haverá outra CP nas próximas semanas. Segundo Resende, a SPE trabalhou com afinco junto a várias associações. Já o PCM deve ocorrer no primeiro semestre de 2023 –trabalho que está em linha com diretrizes do ministério.
Marcio Trannin, Vice-Presidente do Conselho de Administração ABSOLAR, falou dos desafios da geração centralizada nos próximos anos e informou que a ABSOLAR tem representantes regionais que atuam de forma capilar para defender interesses do setor. Segundo Trannin, a conexão à rede é gargalo na maioria dos países. “É tecnologia democrática. Devemos trabalhar junto à EPE, MME para ganhos no setor e expansão da rede”, disse.
Segundo o Vice-Presidente do Conselho de Administração ABSOLAR, existem dificuldades nos processos de outorga, como o fim de desconto na TUST, que gerou caos para agentes conseguirem pegar esse desconto, além do leilão de margem de escoamento, que guiará o mercado. “A abertura do Ambiente de Contratação Livre (ACL) é um enorme desafio, mas uma grande oportunidade para a solar”, apontou. “O Brasil está 25 anos atrasado, na contramão do mundo, na questão de podermos escolher nosso fornecedor de energia. Consumidores de baixa tensão precisam entender a conta de energia, que é complexa devido aos impostos”.
Camila Alves Angoti de Moraes, Sócia do escritório Julião Coelho Advocacia, falou de constrained-off e a reflexão de futuro para a fonte solar. De acordo com ela, é injusta a alocação de riscos, na qual o transmissor não é o responsável pela restrição de escoamento. Camila informou que, para a fonte solar, em 2017, houve regra de comercialização que definiu o constrained-off. Somente em 2020, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) disse para aguardar solucionamento para eólica para, então, resolver a solar. Em 2021, houve a solicitação feita por gerador individual, mas não obteve sucesso. Por fim, o problema foi resolvido por meio da judicialização.
A palestrante comentou que o reconhecimento de direito comum a todas as fontes, estipulado em lei, foi trazido à Aneel, que informou que regras eram preventivas. Assim, o reconhecimento urgente foi realizado em maio desse ano para solar fotovoltaica. A metodologia inicial ocorreu em junho, mas a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) não tem sido tão célere em relação aos reembolsos. Ocorreu a CP 48 para constrained-off, a qual a ABSOLAR contribuiu, mas ainda não obtivemos resposta. No entanto, o desfecho deve ser favorável.
“Estamos em etapa de metodologia definitiva, então este ano foi exitoso”, apontou. “Um estudo mostra que o mundo vê que os curtailment são um fato, então devemos analisá-lo como um aspecto útil ao sistema e rentável aos geradores. Essa energia restrita poderia ser usada para carregamento de baterias e serviços ancilares”, finalizou.
Francisco Carlos da Silva, Head Regulatório da EDP Renováveis, iniciou sua fala dizendo que o produtor independente de energia é mal interpretado, pois produz e comercializa energia por sua conta em risco. “São questões gerenciáveis pelo gerador. Transmissão não é problema do gerador”, disse. Segundo Francisco, a Lei nº 9.648 mostra que, para todos os efeitos, uso do sistema e energia são feitos de forma separados. O gerador não pode precificar algo que não está em sua mão e estamos ratificando um risco que não sabemos se irá ocorrer. “A questão também é econômica. O consumidor já pagará custo maior sem saber se o custo irá se materializar”, destacou.
Raphael Roque, Coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de Financiamento da ABSOLAR, iniciou o painel apresentando o trabalho do GT para o desenvolvimento do setor solar nos últimos anos. A questão que se tentou responder pelos palestrantes do painel foi: como o financiamento pode ajudar a energia solar a se consolidar ainda mais no País?
Marcela Santos, Gerente na São Paulo Parcerias, informou que são uma sociedade de economia mista com foco no município. As Parcerias Público-Privadas (PPPs) são desenvolvidas pela entidade, já com dezenas de contratos modelados.
“Uma das prioridades é diminuir as faturas de energia do município de São Paulo por meio do Mercado Livre de Energia e da geração distribuída”, disse. “Acreditamos que projetos de longo prazo são mais interessantes via PPPs. Neste modelo podemos exigir metas mais audaciosas e disponibilizar o recurso imediatamente”.
De acordo com Marcela, os financiamentos tomados pelo município para projetos públicos normalmente são mais caros, aumentando o custo dos projetos. Atualmente, a São Paulo Parcerias possui quatro projetos em andamento: telhados solares em Unidades Básicas de Saúde (UBSs), em unidades escolares, em um aterro sanitário desativado e migração de 200 unidades consumidoras para o Mercado Livre de Energia.
Thiago Cardoso, Gerente Comercial do Meu Financiamento Solar, destacou que são a maior fintech de financiamento solar no Brasil, pioneiros na disponibilização de créditos no setor. “Financiamos projetos de pessoas físicas até R$ 500 mil e de pessoas jurídicas até R$ 3 milhões. Realizamos pagamentos split para os integradores e distribuidores, evitando a bitributação”, informou. Segundo Cardoso, o cliente pode optar pelo seguro de proteção financeira em caso de invalidez permanente, incapacidade física temporária ou morte.
O palestrante ainda destacou estudo da Greener que informa que 54% das vendas deste ano foram efetuadas com de linhas de financiamento. A região Nordeste lidera o número de propostas efetivadas pelo Meu Financiamento Solar, seguida da região Sudeste.
Thiago Diniz, Diretor do Banco Genyx, contou que o foco da instituição são financiamentos que geram sustentabilidade para as empresas paulistas. “Seguimos os princípios do Open Bank e construímos uma parceria muito forte com o BV. Temos também uma parceria muito importante com o Meu Financiamento Solar”, apontou. “Recentemente, lançamos um novo produto que consiste em uma cooperativa de comercialização de créditos de energia. Queremos promover a energia limpa e acessível, democratizando a geração solar”.
Breno Machado, Gerente de Produto da WDC Networks, disse que a meta da empresa é conectar empresas e pessoas às inovações tecnológicas, incluindo o segmento de energia solar. “Apresentamos uma nova maneira de levar tecnologia aos nossos clientes, transformando o Capex em Opex por meio de mensalidades de até 120 parcelas, permitindo às empresas investirem seu capital no foco de seu negócio”, informou. “Estamos há 20 anos no mercado. Somos uma das poucas distribuidoras no mercado listadas na bolsa de valores”.
Gabriela Chiste, CEO da Desenvolve SP, destacou que o Banco do Empreendedor (Agência de Fomento governo do estado de São Paulo) tem mais de 7 mil clientes no momento. “Nosso foco é a criação de linhas de crédito competitivas para desenvolvimento e inovação (até 10 anos) e a meta é nos tornar o maior banco financiador da energia solar fotovoltaica em São Paulo”, disse. Gabriela relevou que também possui projetos solares em aterros exauridos e em cavas de mineração exauridas.
Carlos Dornellas, Diretor Técnico e Regulatório da ABSOLAR, deu início ao painel informando que o Ambiente de Contratação Regulado (ACR) está declinando sua importância para a fonte solar. “Assim, buscamos avançar o ACL para a baixa tensão, sempre olhando para o consumidor. Precisamos aprovar regras para abertura de mercado. Há dúvidas sobre como o novo governo vai proceder e deve-se haver livre competição”, informou. Dornellas destacou ainda que o constrained-off para eólicas está equacionado, mas para solar, ainda não.
Ana Carla Petti, Diretora de Assuntos Regulatórios e Institucionais da Comerc Energia, apresentou o conceito dos 3Ds da Comerc: descarbonização, digitalização e descentralização. Desenvolvedores de negócios buscam solucionar dores de clientes. Consumidores buscam por redução de custo, mas também buscam por eficiência e qualidade. O consumidor precisa de escolhas. Simplicidade também é importante, assim como o gerenciamento fácil. “Nesse sentido, o ACR é mais simples. Porém, ele não escolhe supridor, nem preço. A micro e minigeração distribuída foi desenhada para atender ACR, no entanto, pode entrar no ACL. Migrar para o ACL requer informação”, disse.
Petti informou que é preciso critérios objetivos para se aprovar projetos de GD, além de requisitos para se adequar sistemas de faturamento, processos e procedimentos bem definidos. “Sem processos padrão, a complexidade fica muito grande e gera custos que inviabilizam projetos. Efetividade de resposta e demanda é um exemplo”, apontou.
Carlos Schoeps, Diretor da Replace Consultoria, informou que o replace foca nas soluções dos consumidores. Nesse segmento, há pressão para redução de custos, preços estáveis e soluções de qualidade. “A energia está no Top 5 de custos das empresas. É preciso planejamento de suprimento, negociação de preços e contratos”, disse. “É importante buscar flexibilidade nos contratos para ganhos financeiros”.
De acordo com Schoeps, empresas de soluções estão se verticalizando, gerando conflitos de interesse e impossibilitando melhores tomadas de decisão. Os contratos de autoprodução e arrendamento carecem de maior análise e negociação, enquanto a renegociação de contrato é um gerenciamento necessário, devido ao volume de dados presente no mercado e suas mudanças inerentes.
Pedro Dante, Sócio do Lefosse Advogados, informou que a transição do ACR para o ACL está ocorrendo e algumas empresas que não são do setor de energia estão tentando pegar uma fatia desse mercado. Segundo Dante, a GD será o veículo de estruturação do mercado. “Já no Ambiente de Contratação Livre, temos um mercado mais complexo. O comercializador varejista é um produto interessante, onde serão encontradas reduções de custos no ACL”, informou.
Para o palestrante, grandes consumidores buscam por sustentabilidade e redução de encargos setoriais. A postergação da tarifação da Lei nº 14.300/2022 faz com que grandes consumidores busquem ser autoprodutores. “Todo autoprodutor tem um risco. Tentamos mitigá-lo, mas ele existe”, finalizou.
Rodrigo Senne dos Santos, da Âmbar, informou que a empresa está focada em GD, além de transportar gás natural por meio do pipeline. “Já evitamos muitas toneladas de CO2. Esperamos estar com cerca de 30 MW de geração distribuída até o final de 2023”, informou. Em sua apresentação, Senne mostrou projetos por distribuidoras, as outorgadas e as em operação. Mostrou também cases da Âmbar com fazenda solares, importação de módulos e viabilização de projetos. Finalizou destacando que as tarifas de energia da GD são adequadas. “O setor elétrico tem arcabouço regulatório como parâmetro para balizar preços de CMO”, falou.
Rafael Marques, Especialista Técnico Regulatório da ABSOLAR, deu início ao painel destacando que o retorno da certificação é a diferenciação, além de trazer visibilidade às empresas que atrelam qualidade ao serviço prestado e aos procedimentos internos por meio de um processo de reconhecimento e chancela. “No programa de Certificação Voluntária Qualidade ABSOLAR, empresas são avaliadas por entidades independentes e podem conquistar um selo que proporciona maior confiança e solidez para sua marca”, disse.
Pedro Drumond, Diretor Comercial da RH Renováveis, falou sobre a importância da qualificação técnica para a certificação. “Para a certificação, existe um processo de auditoria, incluindo o quadro de colaboradores diretos e terceiros. Como a certificação é algo que precisa de renovação e atualização, há grande necessidade da manutenção do capital humano”, explicou. “O que mais vale na certificação é o processo, que traz melhorias a sua empresa e não o certificado em si. Ainda assim, a certificação é um ótimo diferencial para a utilização de marketing e vendas pelo valor agregado”.
Segundo Drumond, gestores têm que estar preparados para um turnover com nível controlado e não utilizar isto como freio para a qualificação dos colaboradores. “O engajamento está no meio termo entre o desafio e a competência. Perder este meio termo pode fazer o colaborador alternar entre quadros de estresse e desmotivação”, finalizou.
Walter Laudisio, Assessor da Superintendência da ABRAC, falou sobre a avaliação da conformidade. “Um termo muito importante atualmente é ‘infraestrutura da qualidade’, que está mudando a certificação ao redor do mundo. A infraestrutura é composta por todos os órgãos e estruturas de atuam na certificação da qualidade por meio de disposições legais e regulatórias”, disse. A avaliação da conformidade verifica se os requisitos legais e regulatórios do objeto, produto ou sistema são atendidos.
O grande objetivo é tratar do interesse do consumidor de que o produto ou serviço atenda aos requisitos especificados, atestando a adequação a estes requisitos. “A contrapartida à empresa certificada são os benefícios da diferenciação de mercado”, apontou. Walter ainda destacou as vantagens da Certificação ABSOLAR: utilização do selo de certificação em materiais de divulgação, reconhecimento pelo mercado, condições mais vantajosas de financiamento e seguros, que sempre buscam nas certificações garantias para seus negócios.
José Eduardo Rocha, Consultor da GIZ – instituição que está presente em mais de 120 países, apontou que a colaboração entre Brasil e Alemanha para promover o desenvolvimento sustentável a partir de novas tecnologias é bastante ampla. Os desafios estão em níveis globais e merecem o envolvimento de todos.
O programa da empresa com o Brasil teve início em 2016 e está na fase 3 de desenvolvimento. “A GIZ estudou e colaborou com o procedimento de certificação da ABSOLAR para a cadeia de energia solar no Brasil. Já foram designados cinco Organismos de Certificação Designados (OCDs) até o momento”, disse.
Bruno Reis, Diretor Comercial da Genyx, destacou que a empresa tem o orgulho de ser a primeira do Brasil a receber a Certificação da ABSOLAR, e ainda no nível mais alto: AAA. “Queremos que mais empresas sejam certificadas e que alcancemos a maturidade e profissionalização do mercado de energia solar”, falou. “Nós acreditamos em guerra de valor e não em guerra de preço. O mercado em fase inicial e exponencial permitia certo nível de desaforo de profissionalismo, mas a maturidade de mercado não vai permitir mais tal conduta”.
Rodrigo Lopes Sauaia, Presidente Executivo da ABSOLAR, deu início ao painel dizendo que a aprovação da Lei nº 14.300/2022 na Câmara dos Deputados trouxe justiça entre as partes, inclusive entre as distribuidoras, que se opuseram à essa aprovação. Sauaia informou que a lei passou por duas tentativas de veto. Um deles rompendo um acordo histórico, com assinatura do ministério, que é o projeto de infraestrutura à GD, reduzindo custos. O Congresso Nacional balizou a derrubada desses vetos.
“Os benefícios técnicos e ambientais serão valorados à GD (está na lei). Estamos vendo mudanças no governo que entrará para questão sociais. A geração solar agrega muito socialmente na geração de empregos e na renda dos brasileiros”, disse. “Parte desses benefícios não estão explicitados na lei, embora reflitam no preço da energia ao consumidor”.
De acordo com o Presidente Executivo da ABSOLAR, o marco legal da geração própria de energia promove o Encontro de Contas. “Deveria ter sido publicada resolução sobre forma como CNPE calculará custos e benefícios”, informou. “O atraso não prejudica o setor, mas as contas devem refletir na realidade. Eles têm até julho de 2023 para publicar esses cálculos”.
A REN 482 será reposicionada na REN 1000, que trata dos direitos e deveres dos consumidores e a 482 se encaixa nisso. No dia 3 de agosto, a ABSOLAR encaminhou ofício solicitando a regulamentação da lei, que só começou em novembro. No entanto, ela deveria ter sido regulamentada integralmente até julho.
“Se a lei estivesse regulamentada devidamente, certamente cresceria mais. Isso traz dano ao setor. O Projeto de Lei (PL) 2.703/2022 prevê a restituição do prazo perdido. O setor está perdendo tempo e benefícios”, explicou. “Inicialmente, a restituição seria de 12 meses, mas o acordo do Congresso resultou em 6 meses de prazo de restituição”. A lei ainda não foi prorrogada, pois ainda deve passar no Senado Federal.
“Tem itens que já deveriam estar sendo implementados mesmo sem regulamentação da Aneel, ou seja, desde janeiro. A falta de isonomia mostra que, itens que dificultam a GD já estão sendo implementados”, informou Sauaia. Por isso, é importante fiscalizar as distribuidoras, que estão descumprindo prazos e isso está passando impune. “É a Aneel que deve fazer essa fiscalização. Eles têm que prestar esse serviço à sociedade”, destacou.
Donato Filho, Diretor da Volt Robotics, falou sobre a valorização de custos e benefícios da GD. “O setor solar tem um crescimento que desafia a lógica do setor elétrico. Isso dificulta realização de análises. Órgãos de planejamento estão confusos”, disse. “A geração própria de energia reduz não somente o denominador (mercado), mas também a receita requerida. Logo, precisa fazer a conta para ver se número será maior ou menor da tarifa sem GD”.
Segundo Donato, a tarifa é dividida em duas partes: fio e energia. Fio todos devem pagar. Energia só no ACR. “Dentro da TUSD, vai CDE, fio A, fio B e perdas. Na TE, se paga alguns encargos, energia, perdas e outras coisas”, explicou. Fio A paga rede básica, enquanto fio B é parcela de distribuidoras e tem que remunerar investimento e custos operacionais.
“Conforme se vai colocando GD no sistema, o que acontece? Dividimos TE e TUSD. A participação da TUSD, que está crescendo bastante, é maior na Tarifa B1 e B3”, apontou. Donato ainda comentou sobre suas observações a respeito das tarifas no Proret. “Separamos impactos em sete componentes. As térmicas aumentaram no pós-Covid. Com mais GD, ocorrem menos despachos de UTEs. Perdas, segurança energética também foram consideradas”.
Donato relatou que a geração própria de energia reduziu muito o custo no período de seca. A partir de análises hora a hora, foram economizados R$ 13,6 bilhões. Já no custo médio de operação entre 2022 e 2031, a GD pode reduzir R$ 34 bilhões, considerando os mais diversos cenários. A Volt Robotics também simulou situações com perdas técnicas com ou sem geração distribuída. Com GD, houve redução de perdas em 93% das redes do País. “Quanto mais geração própria nas diversas regiões, mais há redução na variação da energia solar em dias chuvosos”, disse.
Guilherme Susteras, Sócio-Diretor da Sun Mobi e Coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída (GTGD) da ABSOLAR, iniciou sua fala relatando que tudo começou em 2012, com a REN 482. “A Aneel fez um estudo mostrando que Brasil tinha muito a se beneficiar com a GD. Fez as contas com pareceres jurídicos. Em 2015, a agência tentou propor melhorias no processo, criando minigeração distribuída de até 5 MW, criando a REN 687”, disse.
Susteras explicou que isso deu tão certo que o setor começou a crescer muito rápido. Em 2019, a Aneel começou a tentar frear este crescimento criando a tarifação de 57% com a alternativa 5. Em 2020, a repercussão levou à paralização desse processo. Em março de 2021, o PL 5829/2019 entrou para votação. “Só conseguimos aprovação graças a muitos parceiros. O MME assinou com papel e caneta o PL. Conseguimos aprovação com placar histórico. Em dezembro de 2021, o texto foi votado no Senado e, em janeiro de 2022 a Lei nº 14.300/2022 foi sancionada”, relatou.
De acordo com o coordenador do GTGD da ABSOLAR, a própria Aneel já quantificou os custos e benefícios da geração distribuída no passado, então isso é possível, sim, ser feito. “Dos seis meses que o CNPE tinha para regulamentar a lei, deixaram para a última semana para abrir uma consulta pública que ainda não teve resultado”, informou. “As distribuidoras não ajustaram prazos e normas técnicas, pois precisam da regulamentação da Aneel, mas também para tentar frear crescimento da GD por razões óbvias”. Susteras destacou que, quando pedimos a regulamentação da lei, só queremos que se cumpra o que foi combinado. “A Aneel precisa fazer seu trabalho. Fiscalizar distribuidoras e puni-las intempestivamente”, finalizou.
Rodrigo Azambuja, da CCEE, informou que a projeção é que o ACL aumente muito devido às fontes renováveis, especialmente à solar. Em sua fala, o palestrante também explicou sobre os modelos de formação de preço, que deve receber grande contribuição por conta da expansão da solar. No entanto, a micro e minigeração distribuída ainda não é considerada nos modelos, mas parte da carga certamente é atendida pela GD.
“A expansão do ACL altera gráficos de geração abatendo da carga. Essa nova metodologia será utilizada em caráter sombra (não oficial) em 2023 e o colegiado avaliará para entrada definitiva em 2024”, disse. “Estamos fazendo estudos para 2023 considerando micro e mini geração distribuída e notamos diminuição nos preços de energia”.
Eduardo Tobias, Coordenador da Força-Tarefa de Hidrogênio Verde (FT-H2V) da ABSOLAR, deu início a este painel informando que, apesar da FT ter apenas três meses, já há uma gama de trabalhos em andamento. As prioridades de ações para o ano de 2023 são: contribuições regulatórias e normativas, políticas públicas, modelos de negócios, viabilidade econômica, aplicações/usos finais e disseminação de conhecimento e oportunidades de negócios.
“As cores do hidrogênio definem sua origem e tecnologia de conversão. Neste ponto, temos uma grande gama de possibilidades de cores”, apontou. “Este é um mercado com potencial de exportações para o Brasil”.
Segundo Tobias, a fonte de energia solar fotovoltaica pode ajudar a compor o mix de fontes necessário para fornecer energia a um custo competitivo para a produção do Hidrogênio Verde.
Cayo Moraes, Gestor Executivo na EDP, afirmou que o hidrogênio tem capacidade de reduzir o consumo de energia fóssil primária em uma infinidade de usos e aplicações. “É a comodity do futuro capaz de substituir o petróleo a médio e longo prazo”, relatou. Cayo falou ainda sobre o projeto Pecém, que irá envolver toda a cadeia de hidrogênio, da geração de energia aos seus diversos subprodutos. A planta piloto de 1 MW tem finalidade de aprendizado da implementação e operação. Esta planta entra em operação agora em dezembro de 2022. Agora, a meta da empresa é entender o uso do hidrogênio em termelétricas, indústrias, transporte e eficiência de conversão.
João Guillaumon, Sócio da McKinsey & Co, informou que o Hidrogênio Verde é um mercado promissor de longo prazo. A geração adicional de eletricidade para atender o setor do Hidrogênio em 2040 será da ordem de 180 GW de capacidade, o que é similar à matriz elétrica brasileira atual. “O Brasil tem uma abundância de fontes renováveis de energia para a produção do Hidrogênio Verde, o que o coloca em uma posição privilegiada nas projeções de custo do H2V”, disse. “Aproximadamente 60% do Hidrogênio Verde que será produzido no Brasil em 2040 deverá ser consumido no mercado nacional. A Europa e Ásia são potenciais compradores de H2V no futuro”.
No entanto, Guillaumon relata que há diversos obstáculos regulatórios, tributários, de certificação e de infraestrutura para enfrentarmos até a consolidação deste mercado. Por fim, informou quais são as principais aplicações do Hidrogênio Verde no Brasil em volume: cadeia de valor do ferro e do aço, transporte de carga (caminhões pesados em longas distâncias) e aplicações térmicas industriais.
Marilia Rabassa, Diretora de Estratégia Financeira da CELA, começou com a seguinte pergunta: onde está a novidade da cadeia do hidrogênio? Na oportunidade ampla de descarbonização das economias mundiais. “A CELA trabalha com consultorias e transações para projetos de energia renovável. Já trabalhamos em três projetos de H2V”, afirmou.
“Atualmente, já são 29 os países com estratégias para o Hidrogênio Verde aprovadas, 11 países em fase final de conclusão e 20 países com estratégias em desenvolvimento. Alguns destes países já consolidando agendas de implementação e retirada de incentivo e benefícios fiscais para estimular a cadeia do H2V”.
Luiz Antonio Mello, Chefe de Vendas da Thyssenkrupp Uhde Brasil, informou que a empresa foca em insumos para a indústria, dentre eles, produtos para a cadeia do Hidrogênio Verde. Segundo o palestrante, um dos maiores desafios do H2V é disponibilizar energia renovável suficiente para sustentar seu mercado. “Cada módulo de eletrolisadores possui 20 MW, com capacidade de produzir 9 toneladas de hidrogênio por dia. A eficiência de conversão é de 4.9 kWh por M3 de hidrogênio”, explicou. “Não queremos atuar só com os equipamentos e insumos, mas em toda a cadeia do H2V. É possível transformar óleos vegetais em combustíveis pela sua hidroxilação”.
Markus Vlasits, Conselheiro da ABSOLAR, falou das aplicações-chave envolvendo medidor e dos principais segmentos do armazenamento, que são: em frente do medidor, atrás do medidor e microrredes. Sobre a reserva de capacidade, Vlasits afirmou que é esperado que precisaremos de 30 MW dessa fonte. “Não precisamos ligar térmicas a gás à noite. Há outras tecnologias, como o armazenamento, para isso”, disse. “Devemos pleitear para que haja inserção do armazenamento no leilão de reserva de capacidade”.
André Edelstein, Sócio Fundador do Edelstein Advogados, destacou a busca de soluções com flexibilidade que o armazenamento traz. “Disciplinar a figura do armazenador é importante. Solução de planejamento é importante. Distribuidoras podem aplicar recursos de P&D para armazenamento pela Lei nº 9.991/2020”, apontou. “A Lei nº 14.300/2022 define limite mínimo de 20% da capacidade máxima para armazenamento. Na NT 41 tem limitação máxima de 90%”.
De acordo com Edelstein, o Leilão nº 3/2021 previu possibilidade de SAEB como complemento de solução de suprimento. “O tratamento tributário dado aos SAEB é muito alto. Devemos buscar por desoneração tributária. O PL 414 admite a contratação de lastro, abrangendo SAEB. A regulamentação do REDs trata de SAEB também”, afirmou.
Marcelo Rodrigues, Vice-Presidente de Negócios, Marketing & Inovação da Unicoba, informou que o armazenamento tem ganhado espaço. A Unicoba fabrica bateria no Brasil, mas também trabalha com SAEB. “Temos uma matriz absolutamente renovável. Mas, no Norte, somos piores que a China. Temos projeto trazendo armazenamento em regiões remotas da Amazônia e já atuamos em 25 mil unidades no Brasil”, revelou. Rodrigues destacou que o novo governo prevê atendimento a 219 mil unidades na Amazônia.
Alino Sato, Gerente de Assuntos Estratégicos e Regulatórios da You.On Energia, informou que desenvolveram o maior SAEB do Brasil. Para o palestrante, com bancos de baterias, novos projetos serão viabilizados, trazendo benefícios para modicidade tarifária. “Esse ano não foi muito favorável aos integradores por restrições que houveram no mercado chinês. Enquanto isso, os EUA predominam no mercado de BESS. Já o mercado chileno teve uma lei de armazenamento aprovada há duas semanas”, disse. “Temos de buscar fornecedores na Ásia. Fornecedores nacionais ainda sofrem com questões tributárias e grau de maturação”.
Wagner Setti, Relações Institucionais e Governamentais da WEG, mostrou tecnologias de armazenamento, como eletroquímicas, mecânicas, termodinâmicas e eletromagnéticas. Segundo ele, a aplicabilidade mostra que baterias de lítio trazem mais eficiência que outras, pois têm vida útil de 15 anos e entregam energia rápido.
Setti também falou sobre BESS, que pode ter montagem em eletropostos. “O BESS atua como estabilizador de tensão, podendo ser um gerador concomitantemente”, apontou. “Outras formas de armazenamento devem ganhar espaço como fluxo e hidrogênio. O BESS é canivete suíço e componente-chave para descarbonização, redução de custos etc. Precisamos ter cadeia local para competitividade’, finalizou.
Rodrigo Pedroso, Conselheiro Fiscal da ABSOLAR, destacou que energia solar, meio ambiente e sociedade podem ser vistos como um tripé nos dias de hoje, sem papéis concorrentes. “O setor solar está entregando para o Brasil uma Itaipú a cada 1 ano e dois meses”, afirmou.
Ricardo Baitelo, Gerente de Projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), informou que tivemos importantes acontecimentos na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), no Egito. No entanto, ainda uma lacuna na redução de emissões de carbono que precisa ser cumprida, o que é bastante difícil no cenário mundial atual.
“O setor elétrico brasileiro tem potencial para puxar a descarbonização no Brasil. Porém, em contraste, o plano de privatização de Eletrobrás traz uma proposta de aumento das térmicas no Brasil da ordem de 50%”, explicou. “Há a expectativa que o Brasil retome sua posição de destaque nas próximas Conferências das Partes e em sua luta pelo clima”.
Luis Fernandez-Pita, Diretor da Atlas Renewable Energy, informou que a empresa nasceu em 2017 e já opera cerca de 1,4 GW em usinas solares. “Hoje vemos que o termo correto é energia sustentável e não mais apenas energia limpa”, disse. Pita também revelou que a ABSOLAR está criando a Força-Tarefa (FT) ESG para que possa compartilhar experiências no tema. Segundo ele, um ponto importante em ESG é a erradicação da pobreza.
De acordo com o palestrante, na operação de usinas solares é possível utilizar sistemas para minimizar o consumo de água na limpeza dos módulos, compensação de desmatamento por meio de reflorestamento e minimizar o uso de equipamentos poluentes. Pita também falou sobre a busca pela igualdade de gênero da empresa. “Hoje, em nossos projetos, já estamos empregando 25% de mulheres, um valor que só foi possível atingir após um trabalho intenso de treinamento e capacitação para trazê-las para o nosso setor. Foram mais de 1.500 mulheres treinadas e formadas”, afirmou.
Fabiana Dias, Consultora da GIZ, falou sobre a presença das mulheres no setor. “O que nós temos feito de diferente? Estamos vivendo mais do mesmo em regras que nem sempre fazem muito sentido”, disse. “O quanto levamos a perspectiva humana em consideração no setor? A cada dia nascem em média 320 mil pessoas e a pergunta que fica é: o que iremos construir para estas crianças?”, questionou. Segundo Fabiana, apenas 7% das pessoas formadas em cursos técnicos e tecnológicos no Brasil são mulheres. A Consultora da GIZ então apresentou a ação coletiva “Interligadas”, que promove a inclusão destas mulheres na formação para o setor solar.
Eduardo Avila, Diretor Executivo da Revolusolar, destacou o que tem sido feito para trazer o aspecto social para a energia solar. “Estamos há 7 anos levando a energia solar às favelas do Rio de Janeiro. A origem se deu nas favelas da Babilônia e Chapéu Mangueira”, contou. Eduardo explicou também que o termo “pobreza energética” refere-se à negação de acesso físico ao sistema elétrico e impossibilidade para pagar por uma quantidade mínima de energia para uma vida adequada. “Mais de 50% dos brasileiros gastam mais que 50% da sua renda com energia elétrica”, informou.
“Ainda somos pequenos, mas estamos crescendo muito, tanto em capacidade instalada de energia solar quanto em pessoas qualificadas nas favelas do Rio de Janeiro”, disse. De acordo com o Diretor Executivo da Revolusolar, o modelo utilizado é o qual o cooperado fica com 50% da economia de energia pelas cooperativas e 50% vai para a contratação de técnicos locais para a manutenção dos sistemas. Por fim, destacou: “quem são as pessoas que definem as políticas de energia no País? Não são as pessoas em situação de fragilidade energética”.
Tayane Belem, Gerente de Marketing e Parcerias do Litro de Luz Brasil, informou que a ONG tem atuação prioritária em áreas remotas. “Temos o lampião solar e o poste solar para a implementação em comunidades ribeirinhas na Amazônia e favelas em diversas localidades. Este ano devemos bater 4 mil soluções implementadas”, revelou. “Nosso intuito é que os moradores montem seus sistemas e entendam o funcionamento para que possam replicar. Por isso, o morador é a parte fundamental do processo”. Tayane explicou que as capacitações não são apenas em nível técnico, mas também de liderança. “Toda comunidade tem seu embaixador ou embaixadora para manter os sistemas em funcionamento”, afirmou.